Um pouco de história

No princípio acreditava-se numa força divina da água, pensava-se que as doenças eram castigos por ofensas aos deuses, e achava-se que a sua cura podia obter-se, naturalmente, por medio de água purificadora, melhor ainda se esta brotasse das profundezas da terra.

A partir da observação de que alguns problemas de saúde melhoravam ou se resolviam quando animais ou pessoas bebiam águas de nascente (algumas delas com cor, temperatura ou cheiro diferentes da água que se utilizava habitualmente para beber) ou quando se banhavam no mar ou nessas águas “especiais”, foi-se criando um corpo empírico de conhecimentos sobre as propriedades terapêuticas da água, que evoluiu ao longo dos séculos e se desenvolveu em várias civilizações diferentes.

Na Grécia antiga, que foi um dos berços da Medicina moderna, Hipócrates considerava a doença como um desequilíbrio dos “humores” do corpo e a cura como o restabelecimento do seu equilíbrio, ao qual se chegava por meio da água, da vida sã, da luz, da dieta, das massagens e da tranquilidade psíquica.

Esta perspetiva incorporava a teoria dos quatro elementos fundamentais, a saber o Fogo (fonte de calor e energia), a Terra (elemento sólido, base da produção alimentar e fonte de substâncias fitoterapêuticas), o Ar (o sopro da vida, elemento invisível, mas fundamental) e a Água (fonte de vida, elemento purificador) e deu origem às chamadas “curas elementares”, em que esses 4 elementos eram utilizados, isoladamente ou em conjunto, como tratamento para inúmeras doenças e até como prevenção de algumas delas.

Na medicina hipocrática, a água era utilizada judiciosamente, com conta, peso e medida, sabendo-se já nessa época que uma má utilização da água podia ser prejudicial ao doente. A título de curiosidade, Hipócrates utilizava a água fria para dores articulares e processos inflamatórios, a água quente (que debilitava la musculatura e favorecia as hemorragias) para espasmos musculares, insónias, feridas e chagas purulentas e a água do mar para erupções cutâneas, feridas simples e chagas não infetadas.

Já no Império Romano, a primazia foi dada aos banhos públicos, muito numa vertente de lazer e de convívio social, mas sem esquecer a aplicação terapêutica das águas termais (com propriedades minero-terapêuticas), que foram exploradas no vasto território que os romanos dominavam e foram classificadas em ferruginosas, sulfurosas, aluminosas, salgadas e betuminosas.

A civilização islâmica também deu grande importância à água e a hidroterapia, tendo incorporado as abluções como uma forma de purificação antes das cerimónias religiosas, dando grande relevo à higiene corporal, desenvolvendo sistemas de abastecimento público de água e promovendo os tratamentos termais nos moldes da medicina grega e romana clássicas. Na viragem do século VIII para o século IX, enquanto Paris e Londres pouco mais eram do que aldeias, Bagdad era uma cidade florescente, com cerca de 1 milhão de habitantes, com uma rede pública de médicos e com sistemas de abastecimento de água e de saneamento básico.

Na Europa, a Idade Média foi uma época de retrocesso em termos de assistência médica, de higiene e de saneamento (e por arrastamento também no que se refere ao termalismo), tendo esta situação começado a alterar-se a partir dos séculos XV e XVI, com o advento do Renascimento (data de 1498 o primeiro tratado científico sobre termalismo e balneoterapia).

Assim se foi desenvolvendo a hidroterapia, a crenoterapia, a climatoterapia, a talassoterapia, as termas, caldas e caldelas, os hospitais e hotéis termais, os sanatórios marítimos e de montanha, os estabelecimento balneares e os spa (acrónimo de salute per aqua).

Dando seguimento à abordagem romana do termalismo, esta evolução foi incorporando cada vez mais uma faceta de lazer e bem-estar dos “aquistas”, “curistas” ou “termalistas” (as pessoas que fazem tratamentos termais), aproveitando-se o facto de a maioria dos estabelecimentos termais se localizar em zonas agradáveis e relaxantes e de os tratamentos termais (as “curas”) durarem em regra de 2 a 3 semanas, mas não ocuparem muito tempo em cada dia. Estes fatores favorecem uma organização saudável do dia-a-dia, fazendo com que os termalistas aproveitem a estadia para fazer uma alimentação mais equilibrada, para fazer mais exercício físico (quando possível e permitido pela doença e pelo plano terapêutico), para estar mais tempo ao ar livre e expostos à luz solar (o que sincroniza os ritmos biológicos e regula o sono e a produção de hormonas), para incentivar o convívio social e para combater um dos maiores flagelos das sociedades contemporâneas: o stress!

Entretanto, o desenvolvimento científico geral, sobretudo nas áreas da química, física e biologia, permitiu uma melhor compreensão dos mecanismos terapêuticos da água, que têm sido exaustivamente estudados pelas ciências médicas, formando a ciência da Hidrologia Médica, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde, como uma especialidade (em Portugal é uma Competência Médica).

Pode dizer-se que o século XX foi o “século de ouro” do termalismo, e que o século XXI está a revelar uma tendência regressiva, a que não é alheia a redução das comparticipações sociais para os tratamentos termais, as dificuldades económicas das classes médias, o aparecimento de tratamentos mais eficazes para algumas doenças que tinham nas curas termais a melhor relação custo-benefício, a relutância em reservar metade do período de férias para ir para as termas e até a concorrência que os institutos de beleza, as clínicas de emagrecimento, os health clubs, e os spa fazem ao termalismo clássico.

As propriedades terapêuticas da(s) água(s)

A água propriamente dita, enquanto elemento da natureza, com a sua conhecida fórmula química H2O, é a substância mais abundante do corpo humano (80% do peso das crianças e 50% do peso dos idosos são de água) e da maioria dos organismos vivos conhecidos, cumprindo fundamentalmente funções bioquímicas (diluição e transporte de outras substâncias, participação no metabolismo, etc.) e físicas (regulação térmica, preenchimento do espaço vascular, manutenção da forma das células, amortecimento de energia cinética, etc.).

Quando se pensa na água em termos de termalismo, pensa-se muito para além da sua função primária de hidratação: pensa-se em hidroterapia e em crenoterapia, isto é, em utilizar, de forma precisa e rigorosa, alguns destes efeitos físicos, químicos e biológicos (e mesmo psicológicos) da água para tratar e/ou prevenir determinadas doenças, para reabilitação e para manutenção da saúde e ainda como “serviços de bem-estar termal”, ligados à estética, beleza e relaxamento.

Os efeitos físicos da água podem dividir-se em mecânicos e térmicos e incluem os efeitos “diretos” da água nas suas formas sólida, líquida ou gasosa, com maior ou menor temperatura, em repouso ou com energia cinética adicionada (sob a forma de jatos subaquáticos ou duches), em imersão ou não, durante períodos de tempo mais ou menos longos.

Os principais efeitos mecânicos da água são:

  • A impulsão hidrostática, descrita por Arquimedes, anula parcial ou totalmente o efeito da gravidade e permite que o corpo humano pese menos e até possa flutuar quando se encontra dentro de água. Deste modo alivia-se a tensão mecânica que o peso do corpo exerce sobre as articulações, melhora-se a mobilização ativa (facilitando o trabalho muscular) e passiva (tornando mais fáceis de executar as manipulações e massagens feitas por terapeutas), treina-se o equilíbrio sem risco de quedas e gera-se uma agradável sensação de leveza, que seguramente nos remete para o tempo da vida uterina, em que flutuávamos no líquido amniótico.
  • A resistência hidrodinâmica que a água oferece (a força que se opõe à deslocação dos corpos submersos) obriga a um trabalho muscular aumentado, de tipo isométrico, progressivo e sem impactos importantes.
  • A força hidrodinâmica, resultante das diferenças de pressão provocadas pela nossa deslocação dentro de água ou produzida por jatos ou correntes de água, gera turbulência na água, o que obriga a um trabalho constante de pequenas correções posturais com vista a manter o equilíbrio (um dos efeitos mais importantes da hidroginástica) e faz um efeito de massagem relaxante, como sucede nas tão apreciadas banheiras de hidromassagem e nas massagens por agulheta.
  • A pressão hidrostática, definida pelas leis de Pascal, facilita o retorno venoso e linfático (uma pessoa sentada com água pela cintura equivale a uma pessoa deitada fora de água) e tem um efeito diurético, mas provoca um aumento da pressão intratorácica e intra-abdominal quando a imersão é até ao pescoço, o que pode ser prejudicial em algumas doenças cardiorrespiratórias.

Os efeitos térmicos da água são diferentes conforme a temperatura da água e o seu estado físico:

  • A água quente, que a pele tolera geralmente até aos 42oC na forma líquida e até aos 44oC na forma de vapor de água, estimula os recetores do calor (e da dor se a temperatura for muito elevada), o que desencadeia uma resposta vasodilatadora local (chamada de sangue à pele, a que se segue mais tarde uma reação em sentido contrário, vasoconstritora), um aumento da produção de suor e de sebo pelas glândulas sudoríparas e sebáceas, uma ação relaxante muscular e alguns efeitos “à distância”, como modificações do ritmo cardíaco e respiratório e da tensão arterial, que tem tendência para descer.
  • A água fria, geralmente abaixo dos 25oC, estimula os recetores do frio (e da dor se a temperatura for muito baixa), o que desencadeia uma resposta vasoconstritora local (saída de sangue da pele, a que se segue mais tarde uma resposta em sentido contrário, vasodilatadora), um efeito de contração dos músculos e igualmente modificações do ritmo cardíaco e respiratório e da tensão arterial, que neste caso tem tendência para subir.
  • O gelo, que é uma das formas sólidas da água, tem uma ação anti-inflamatória, sendo utilizado.
  • A alternância de água quente-fria ou fria-quente aproveita o jogo de respostas e contrarrespostas do organismo conforme a temperatura da água e pode ser utilizada em técnicas revigorantes, como os duches escoceses, os banhos de contraste ou alternos e os manipediduches com águas frias e quentes que, por desencadearem respostas cardiovasculares intensas, só se podem fazer quando o estado de saúde do curista o permita.
  • O vapor de água, que se pode utilizar nos banhos turcos (associados ou não a massagem e esfoliação cutânea), no Bertholaix (pulverização de vapor termal entre os 36 e 42oC nos ombros, ancas e coluna vertebral), por via inalatória (vias aéreas superiores e inferiores).

Os efeitos químicos da água dependem fundamentalmente das substâncias químicas nela dissolvidas, da capacidade que o organismo tem em absorver estas substâncias (através da pele ou das mucosas das vias respiratórias, do tubo digestivo, do aparelho génito-urinário), dos efeitos biológicos das mesmas (localizados à pele e mucosas ou à distância, sobre outros tecidos ou órgãos, como os ossos, as cartilagens, o fígado, os rins, a medula óssea) e da sua velocidade de eliminação.

Se é verdade que se pode “construir” uma “água terapêutica” adicionando minerais à água destilada, a natureza já dispõe de inúmeras soluções terapêuticas naturais, as chamadas águas mineromedicinais, cuja composição química diversificada permite inúmeras hipóteses terapêuticas que no seu conjunto dão corpo à crenoterapia.

Por outro lado, algumas águas sulfúreas contêm matéria orgânica (algas e bactérias), que têm interesse terapêutico pela sua ação cicatrizante, anti-inflamatória e estimulante das cartilagens articulares.

Uma forma especial de ação da água é a fangoterapia, sendo a água utilizada como solvente de argilas, lamas, lodos ou turfas, formando suspensões aquosas (pelóides), que se podem misturar nos banhos de imersão ou colocar sobre a pele, diretamente (fangos) ou envolvidas em panos (parafangos). Nestes casos, a ação terapêutica principal é a das matérias sólidas dissolvidas e não a da água.

As águas mineromedicinais

Há várias formas de classificar as águas minerais naturais com interesse terapêutico:

  • Segundo a riqueza em sais minerais: hipomineralizadas ou hipossalinas (com mineralização total até 200 mg/l), fracamente mineralizadas (de 200 a 1000 mg/l), minerais ou mesossalinas (1000 a 2000 mg/l) e ricas em sais minerais ou hipersalinas (>2000 mg/l).
  • Segundo a osmolaridade: hipotónicas (<300 mosm/l), isotónicas (300 mosm/l) e hipertónicas (>300 mosm/l).
  • Segundo os iões dominantes: bicarbonatadas (gaseificadas ou não), sulfurosas (com sulfureto de hidrogénio), sulfúreas (que têm formas reduzidas de enxofre, que lhe conferem o seu cheiro característico), sulfatadas (cada uma delas com subclasses sódicas, cálcicas e mistas), cloretadas, silicatadas, fluoretadas, ferruginosas (eram muito usadas para tratar anemias, mas atualmente não, por serem muito oxidativas). Cada um destes iões dominantes tem efeitos próprios, que são a base da sua ação terapêutica, mas os outros iões presentes nas águas também contribuem para o efeito final.
  • Segundo a temperatura: frias (<25oC) e quentes ou caldas (>25oC), sendo estas subdivididas em hipotermais ou temperadas (25oC a 35oC), mesotermais (35oC a 50oC) e hipertermais (>50oC).
  • Segundo o pH, que pode ir de 0,5 a 10: ácidas (pH <7), neutras (pH 7) e alcalinas (pH>7); em Portugal, a maioria das águas é alcalina.
  • Segundo a radioatividade: todas as águas são radioativas (quase sempre devido à presença de radão, mas por vezes também de urânio, rádio, tório, etc.), utilizando-se apenas águas pouco radioativas, que têm efeitos sedantes, anti-inflamatórios e vasodilatadores, entre outros.

Para que servem as termas

De um modo geral, os tratamentos termais destinam-se a doenças crónicas e complexas, com causas múltiplas e muitas vezes pouco definidas e que evoluem por ciclos de melhoria e agravamento. Neste contexto as “curas de águas” e as “curas pela água”, que são de curta duração, normalmente não curam essas doenças, antes controlam os seus períodos de agravamento, previnem algumas sequelas e reduzem a intensidade dos sintomas de base, permitindo ganhos na qualidade de vida dos doentes, não dispensando em geral o recurso a outros tratamentos. Alguns exemplos:

  • Doenças reumáticas e ortopédicas, especialmente as que têm um grande componente inflamatório, doloroso e de rigidez articular e muscular como a artrite reumatoide, a osteoartrose, as sinovites, a espondilite anquilosante, a condrocalcinose, a fibromialgia e as lesões traumáticas (desportivas ou acidentais).
  • Doenças de pele: psoríase, acne, dermite seborreica, úlceras varicosas, piodermites, eczemas crónicos, cicatrizes hipertróficas (queloides).
  • Doenças do sistema nervoso: sequelas de AVC, hipertonias.
  • Doenças vasculares: hipertensão arterial, insuficiência venosa e linfática, hemorroidas, edemas.
  • Doenças respiratórias e ORL: otites, rinites, sinusites, amigdalites, faringites, laringites, bronquites, asma, doença pulmonar obstrutiva crónica.
  • Doenças digestivas: disfunção da vesicula biliar, síndrome do intestino irritável, colite ulcerosa, diverticulose, obstipação.
  • Doenças génito-urinárias: cálculos renais e da bexiga, cistites, uretrite, congestão pélvica, atrofia pós-menopáusica.
  • Doenças endócrinas e do metabolismo: diabetes, gota úrica.

Numa vertente diferente mas não menos importante, a obesidade e o stress são situações que podem beneficiar muito das técnicas hidroterapêuticas e crenoterapêuticas, sobretudo se estas se associarem à dieta, ao exercício físico e à psicoterapia.

Como tudo o que tem indicações também tem contraindicações, também os tratamentos termais devem ser evitados em pessoas muito debilitadas, em doentes oncológicos, em algumas doenças infeciosas, em insuficientes renais e doentes cardíacos descompensados, no fundo em pessoas que não devam ser expostas ao esforço físico e metabólico que as “curas” exigem dos curistas.

E como não há nada perfeito, uma “cura de águas” gera mecanismos de adaptação do organismo aos agentes terapêuticos e, mesmo feita nas melhores termas e orientada pelos melhores especialistas em Hidrologia, pode provocar reações adversas (as “crises termais”) e obrigar à suspensão temporária, à diminuição da intensidade do tratamento ou mesmo à sua paragem definitiva.

Estas crises termais, que surgem normalmente no final da primeira semana de tratamento e são quase sempre ligeiras e transitórias, resultam da libertação de histamina, acetilcolina e péptidos ativos pelos tecidos, o que pode provocar mal-estar, febre, falta de força, insónias, dores de cabeça, diarreia ou vómitos. Quando a crise se resolve, segue-se um “estado de resistência” e o período de bem-estar da cura termal, que se pode prolongar por semanas ou mesmo meses.

É por estes motivos que os tratamentos termais devem ser feitos em locais especialmente preparados para isso, sob a supervisão de um diretor técnico de exploração, que garante a qualidade das águas, e sob a direção clínica de um médico com a competência de Hidrologia Médica, que coordena os médicos hidrologistas e o pessoal paramédico (operadores de balneoterapia, fisioterapeutas, massagistas) e auxiliar que põe em prática os complexos e rigorosos esquemas terapêuticos prescritos.

A este conceito aderem todos os anos cerca de 100.000 portugueses, que frequentam as várias dezenas de estabelecimentos termais licenciados, que se organizam na Associação das Termas de Portugal (ATP) e seguem as recomendações da Sociedade Portuguesa de Hidrologia Médica (SPHM). Estes curistas (muitas vezes acompanhados por familiares e amigos) fazem as suas curas de águas, repousam, aproveitam o tempo livre para atividades lúdicas e visitas turísticas locais e convivem com outros curistas, partilhando as suas experiências terapêuticas e preparando futuros tratamentos.

Neste contexto, compete a cada estabelecimento termal, através do seu concessionário, fornecer os meios humanos e técnicos mais adequados às doenças que se propõe tratar, dentro dos melhores princípios da Hidrologia Médica, ficando normalmente a cargo das autarquias e dos organismos de gestão turística a organização dos meios hoteleiros, desportivos, culturais e de lazer.

Tudo isto faz do termalismo uma atividade económica relevante, se não a nível nacional, pelo menos a nível local e regional (calcula-se que crie cerca de 5000 empregos diretos e muitos outros indiretos) e seja responsável pela boa saúde económica de muitos concelhos do interior, que têm nas termas um motor de desenvolvimento difícil de substituir, mais ainda numa época de grande crescimento do turismo, em geral, e do turismo de saúde, em particular.

E é precisamente porque o termalismo consegue conjugar importantes ganhos em saúde com benefícios socioeconómicos relevantes, que a SPHM e a ATP têm vindo a pedir que os tratamentos termais voltem a ser comparticipados pelo Estado, como eram até 2011, permitindo que muitos doentes com poucos recursos possam voltar às termas.

Em conclusão

A água é uma “maravilha da natureza”: com uma composição molecular muito simples, tem uma plasticidade extraordinária, passando da forma sólida à líquida aos 0oC e desta à gasosa aos 100oC (o que nos permite com facilidade ter gelo, água para beber e vapor de água ao mesmo tempo), é solvente de inúmeras substâncias químicas, participa maioritariamente na composição corporal de quase todos os organismos vivos e no seu metabolismo, tem propriedades hidrostáticas e hidrodinâmicas notáveis, é radioativa, é boa transmissora do calor, da eletricidade, do som e de ondas de choque, tem uma elevada tensão superficial, pode ser ácida, neutra ou alcalina.

Se muito cedo o Homem chegou à conclusão de que a água era purificadora e terapêutica, demorou-se muito tempo até se perceber que essa mesma água, quando contaminada por micro-organismos (bactérias, vírus, parasitas, fungos) ou quando desequilibrada do ponto de vista físico ou químico (excessivamente ácida ou alcalina, demasiado radioativa, etc.) podia também ser fonte de doenças. Foi a partir desta constatação que se desenvolveram as principais medidas higieno-sanitárias modernas (redes públicas de abastecimento de água, prevenção da contaminação de poços, furos e nascentes, esterilização e correção físico-química das águas para consumo humano e construção de redes separadas de águas residuais domésticas) que tanto têm feito pela melhoria da qualidade de vida e pelo aumento da longevidade que se tem verificado no último século.

Estando hoje resolvidos os principais problemas relacionados com a vertente sanitária da água (pelo menos nos países mais desenvolvidos), continua válida a opção terapêutica da água, sob a sua forma simples e na sua vertente mineromedicinal, mantendo-se a indicação médica para o tratamento termal de muitos problemas de saúde, mesmo que hoje em dia esse tratamento seja muitas vezes um complemento de outras terapêuticas e não a única opção ao dispor dos doentes, como sucedia antigamente.

Por Viriato Horta, Médico Especialista em Medicina Geral e Familiar na Clínica Europa – Carcavelos