Confúcio, o grande pensador chinês que viveu entre 551 479 antes da atual era cristã, disse que «o melhor caminho para o coração dos seus amigos começa na sua cozinha». Séculos depois, pegamos nestas palavras sábias e lançamos-lhe um desafio. Compre os ingredientes necessários e ofereça aos seus convidados um jantar original. Devido à sua variedade e colorido, a cozinha chinesa pode parecer muito complicada de confecionar, mas não é tanto assim. Siga as nossas dicas!

Saúde no prato

Os princípios da gastronomia chinesa estão intimamente ligados a métodos curativos. Na verdade, ao longo de mais de 5.000 anos, a distinção entre comida e remédio quase não existiu. Assim, para a medicina tradicional chinesa, tudo o que faz bem ao corpo é, simultaneamente, remédio e alimento. Numa época como a atual, em que o enfoque sobre a alimentação é tão forte, ela apresenta-se, por isso, como uma excelente alternativa à junk food e às refeições congeladas.

Uma cozinha equilibrada

Um dos conceitos mais importantes na gastronomia da China é a classificação dos alimentos em dois grandes grupos, os alimentos yang e os yin. De facto, é nesta filosofia que a cultura chinesa (e não apenas a culinária) assenta. Os chineses acreditam que todos os problemas têm como causa o desequilíbrio entre estes dois elementos e, na cozinha, esta crença materializa-se numa variedade alargada de ingredientes usados nos mais diferentes pratos.

Os alimentos considerados yin são aqueles que possuem propriedades refrescantes, como é o caso dos rebentos de soja, da cenoura, do pepino, do tofu e do agrião, só para referir alguns. Os yang são os alimentos quentes, como o bambu, a galinha, os ovos, o gengibre e os cogumelos. Mas há mais! O equilíbrio entre eles é a chave para uma alimentação equilibrada.

Lista de compras

Agora que já conhece os princípios que norteiam este tipo de cozinha, vamos apresentar-lhe alguns produtos que não pode deixar de ter na despensa ou no frigorífico se quiser arriscar-se nos sabores asiáticos. Marco Costa, professor de dietética na Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa, explicou à Saber Viver quais são os que deve adquirir para o caso de experimentar esta cozinha em sua casa:

- Gengibre

Condimento muito útil na digestão de alimentos difíceis como a carne e o feijão, sendo muito usado nos pratos de carne. Digestivo e picante, aquece e é bom para náuseas, vómitos e certos tipos de dores e espasmos.

- Arroz

Acompanha quase todos os pratos nas suas variadíssimas formas. Com mais ou menos água, germinado, em farinha, entre outros... Existem vários tipos, como o carolino, o agulha, o selvagem... Para saber mais sofre os diferentes tipos de arroz, clique aqui. Doce, fortificante do sistema digestivo, expele toxinas e parasitas, aumenta a energia e é benéfico para o sistema nervoso.

- Feijão mungo

Este feijão muito pequeno de cor verde é muito utilizado com arroz, servido em sopa no verão, para refrescar, é também óptimo em saladas. Encontra-o, sobretudo, geminado nos supermercados. Refresca, desintoxica (é muito utilizado em casos de intoxicações alimentares), é diurético, ajuda a tratar edemas, conjuntivite, acidez e pressão alta.

Veja na página seguinte: Outros ingredientes a adquirir

- Cogumelo shitake

Mais usado na cozinha japonesa, mas óptima opção para incluir nas suas experiências culinárias. Muito utilizado nos pratos de carne, pois ajuda a sua assimilação pelo organismo, e na famosa sopa de miso. O miso é uma pasta fermentada de feijão de soja que pode conter ou não um cereal. Bom para o estômago, ajuda na prevenção do cancro. É um dos alimentos que mais estimula o sistema imunitário, baixa o colesterol e possui um grande poder desintoxicante.

- Cenoura

Usada em sopas, xaropes, estufados, entre outros tipos de preparação. Na China, é presença habitual nos salteados cozinhados no wok. É um dos alimentos mais disseminados do planeta, elimina toxinas, é benéfico para o fígado e atua contra a indigestão, diarreia e disenteria, sendo diurética. É rica em betacaroteno, que protege contra o cancro e doenças dos olhos.

- Batata-doce

É dos alimentos que mais se vendem na China. É utilizada em purés, sopas, podendo também ser saboreada assada. Doce, às vezes, até exageradamente, fortifica o sistema digestivo, oferece energia, trata inflamações e é indicada para combater problemas oftalmológicos.

- Algas

Serve como condimento depois de tostada (por cima do arroz, por exemplo), pode incluir-se em saladas (cortada em juliana), estufados, sopas (no final da confecção), entre outras utilizações. Existem muitos tipos de algas marinhas. Pelas suas características, Marco Costa aconselha uma mais associada à cozinha japonesa, a alga nori, que envolve o famoso sushi.

Trata-se da mais assimilável das algas e tem propriedades diuréticas. Segundo a medicina chinesa, atua contra a gota, baixa o colesterol e a pressão arterial e ajuda na digestão, especialmente dos fritos. Para saber quais são as algas mais utilizadas na cozinha mundial, clique aqui.

- Miso

É o ingrediente que dá sabor e cor à sopa de miso. É frequente incluí-lo em molhos e patés. Tem a capacidade de salgar. Existe uma grande variedade de misos, que podem ter várias cores, diferentes cereais acrescentados (como o arroz ou a cevada), menos ou mais sal e tempo de fermentação variável, entre outras características. Ajuda na digestão e assimilação, actua contra as más gorduras, alcaliniza o sangue, fortifica o sistema imunitário.

- Molhos e bases

Os ingredientes mais comuns para a confeção de molhos e bases são o óleo de soja, o molho de ostra, o óleo de sésamo e o vinagre de vinho. Modere o uso de sal em pratos que incluam molho de soja, uma vez que este já contém bastante sal na sua composição. Se preferir, opte por um molho de soja light, à venda nalguns supermercados. A farinha de milho também é muito usada para engrossar estes molhos.

Texto: Alexandra Pereira com Marco Costa (professor de dietética)