
O que são exatamente os aditivos alimentares e qual a sua função nos alimentos?
Os aditivos alimentares são substâncias adicionadas intencionalmente aos alimentos para melhorar a sua conservação, textura, cor, sabor ou estabilidade. São regulamentados e avaliados por entidades como a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA). Sem eles, muitos produtos teriam uma durabilidade muito reduzida ou não teriam a qualidade sensorial que os consumidores esperam.
Existe a perceção de que todos os aditivos são artificiais e prejudiciais. Isto é um mito?
Sim, é um mito. Muitos aditivos são de origem natural, como o ácido ascórbico (vitamina C) usado como antioxidante, ou a pectina, extraída de frutas e usada como espessante em compotas. Além disso, mesmo os aditivos sintéticos passam por testes rigorosos antes de serem aprovados para consumo, garantindo a sua segurança dentro dos limites estabelecidos.
Os conservantes são fundamentais para evitar a proliferação de microrganismos patogénicos, como algumas bactérias e fungos.
Os corantes são frequentemente apontados como perigosos. Podemos generalizar?
Nem todos os corantes são problemáticos. Existem corantes naturais, como a beterraba (E162) e a curcumina (E100), que são seguros.
Alguns corantes artificiais foram associados a reações adversas em pessoas sensíveis, mas as doses permitidas são muito baixas e, como tal, não representam risco significativo para a população em geral. A preocupação deve estar na ingestão excessiva e não na presença isolada destes aditivos.
Outro mito comum é que os conservantes fazem mal à saúde. O que nos pode dizer sobre esta questão?
Os conservantes são fundamentais para evitar a proliferação de microrganismos patogénicos, como algumas bactérias e fungos, que podem causar intoxicações alimentares graves. O ácido sórbico (E200) e o ácido benzoico (E210), por exemplo, são seguros nas doses recomendadas e ajudam a prolongar a vida útil dos alimentos, reduzindo o desperdício. O problema surge quando há um consumo excessivo e desregulado de produtos ultraprocessados, o que pode levar a desequilíbrios nutricionais. Importa também sublinhar que encontramos aditivos alimentares com efeitos menos benéficos. Não obstante a sua utilização estar definida dentro de intervalos de segurança, há que evitar alimentos rotulados com enormes listas de ingredientes.
Os realçadores de sabor, como o glutamato monossódico, são prejudiciais à saúde?
O glutamato monossódico (MSG) é um dos aditivos mais debatidos. Algumas pessoas associam-no à “Síndrome do Restaurante Chinês”, que inclui sintomas como dores de cabeça e sensação de calor. No entanto, estudos científicos não encontraram evidências sólidas de que o MSG cause problemas à saúde na população em geral. Está presente naturalmente em alimentos como tomates e queijos, e o seu consumo moderado é seguro.
Não obstante a sua utilização estar definida dentro de intervalos de segurança, há que evitar alimentos rotulados com enormes listas de ingredientes.
Um dos grandes receios dos consumidores é a letra "E" presente nos rótulos dos alimentos. A sigla “E” significa que o aditivo é químico e prejudicial?
Não, de todo. O "E" seguido de um número significa apenas que esse aditivo foi testado, avaliado e aprovado para consumo pela União Europeia. Na verdade, alguns dos aditivos mais naturais também têm números "E". Por exemplo, o E300 corresponde à vitamina C, e o E160 é o betacaroteno, presente em cenouras. A associação automática entre a sigla “E” e algo negativo é infundada e resulta, muitas vezes, da falta de informação sobre o que esses compostos realmente são.
Como podem os consumidores distinguir informação verdadeira de alarmismos infundados?
É essencial procurar fontes científicas credíveis e não confiar em desinformação disseminada nas redes sociais. Os organismos reguladores, como a EFSA e a FDA (Food and Drug Administration – EUA), publicam regularmente estudos sobre a segurança dos aditivos alimentares. Além disto, compreender os rótulos dos alimentos e manter uma alimentação equilibrada são práticas fundamentais.
A crescente tendência dos produtos "clean label", que promovem rótulos mais limpos e sem aditivos, faz sentido do ponto de vista da segurança dos alimentos?
Depende da forma como este conceito é aplicado. A ideia de um rótulo mais "limpo" pode ser positiva se significar menos processamento desnecessário, mas não deve ser confundida com maior segurança dos alimentos. Um produto "sem conservantes", por exemplo, pode deteriorar-se mais rapidamente, aumentando o risco de contaminação. O importante é que os consumidores compreendam que a ausência de aditivos nem sempre significa um produto mais saudável ou seguro.
No futuro, podemos esperar mudanças na utilização de aditivos?
Sim, a indústria alimentar está constantemente a evoluir. Há uma grande procura por alternativas naturais e menos processadas, bem como o desenvolvimento de novos aditivos mais eficientes e seguros. A biotecnologia também está a ajudar a criar soluções inovadoras para melhorar a conservação e a qualidade dos alimentos sem comprometer a saúde dos consumidores, pois permite a produção de aditivos naturais, que não têm origem na síntese química.
Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik
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