“Estou com sede, mas não gosto de água”. Se não é o seu caso, certamente já ouviu esta frase da boca de alguém. “Na praia, quando alugo a cadeira e o chapéu, costumam oferecer uma garrafa de litro e meio de água. Dou um golo, o resto tenho de carregar para casa ao final do dia porque não gosto de beber água”. Esta frase foi dita recentemente por uma colega. Adulta, informada.

Quando o “gosto” interfere na nossa decisão de beber, talvez seja melhor procurar soluções voluntárias, que possam ser intercaladas com o consumo de água, para evitar a desidratação.

Nas crianças isto é ainda mais verdade. Há crianças que bebem água sem problema, mas que mesmo assim necessitam de ser incentivadas a beber antes da sensação de sede (afinal a brincadeira não pode esperar), e há aquelas que precisam de ser obrigadas a beber um único golo.

A água é, por excelência, a melhor forma de hidratação, a mais consensual, mas existem alternativas que, usadas de forma moderada, podem contribuir para uma boa hidratação.

De acordo com as indicações do IHS (Instituto da Hidratação e Saúde), “as bebidas com sabor também poderão ter um papel importante nos grupos em maior risco de desidratação, como por exemplo as crianças e os idosos.”

A sensação de sede nem sempre é o melhor indicador do estado de hidratação.

Patrícia Padrão, docente na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto e membro do Conselho Científico do Instituto de Hidratação e Saúde, remete esta afirmação para o estudo realizado em 2009 que dá conta que cerca de 20% da população portuguesa afirma não gostar de beber água.

Nestes casos, quando a hidratação é deficiente pela baixa quantidade de água ingerida, as alternativas podem ser um opção pois, integradas num regime de alimentação saudável, são benéficas.

“As bebidas com açúcar têm cerca de 90 a 95% do seu peso constituído por água. A água das bebidas com açúcares (ou com outros constituintes como vitaminas, edulcorantes, cafeína etc.) é praticamente toda absorvida”, afirma Patrícia Padrão. Desta forma, sublinha, “as bebidas com açúcar servem para hidratar o organismo praticamente da mesma forma que bebidas sem açúcar”.

Conteúdo hidrico de alguns géneros alimentícios

Este consumo deve ser moderado, afinal tudo o que é excesso prejudica o organismo, e Patrícia Padrão faz questão em realçar que “os diabéticos devem evitar ingerir bebidas com açúcar adicionado”.

Alguns destes géneros alimentícios, devido à presença de sal, necessitam da ingestão adicional de água.

O estudo da DGS, relativo à hidratação adequada no meio escolar, refere que "a sopa é uma das preparações culinárias que pode conter uma grande quantidade de água, sobretudo se for generosa em produtos hortícolas". A título de exemplo, o estudo refere que "ingerindo duas sopas por dia, é fácil obter-se cerca de 0,5 l de água". Mas, os autores do estudo deixam o alerta: "frequentemente a sopa é também um veículo importante de sódio, o que pode levar à necessidade de ingestão de uma quantidade adicional de água para que o organismo consiga expelir o excesso deste elemento".

Por isso, refere o estudo, "é conveniente que a adição de sal nesta preparação seja bastante moderada".

As crianças e os idosos "devem ser lembrados e encorajados a beber, uma vez que a sua capacidade de detectar o estado de desidratação e/ou responder aos seus sinais pode estar diminuída”, alerta a nutricionista.

Beber frequentemente ao longo do dia, “optando por alimentos ou bebidas do seu agrado e que correspondam às suas necessidades, especialmente em situações de temperatura ambiental elevada ou de atividade física mais intensa” são os conselhos de Patrícia Padrão para uma correta hidratação.

Fique atento aos sinais de desidratação, em si e nas crianças. Porque a sensação de sede nem sempre é o melhor indicador do estado de hidratação.

Por exemplo quando se pratica exercício físico de grande intensidade, elevados níveis de cansaço ou de outro tipo de stress, podem fazer com que a sensação de sede seja diminuída.

Por isso, a melhor opção será beber de forma regular, em quantidades reduzidas, ao longo do dia, antes de sentir a boca seca.

Além da sede e boca seca esteja atento a outros sinais como urina de cor intensa e em pouca quantidade; sensação de aumento de temperatura corporal; cansaço físico e mental; perda da capacidade de atenção, concentração e memória, dores de cabeça, entre outros.