"O número de diagnósticos tardios de infeção pelo VIH em Portugal é demasiado elevado, perfazendo quase 50% dos diagnósticos feitos no ano de 2014, de acordo com o Programa Nacional para a Infeção VIH/SIDA. Ou seja, muitas pessoas não fazem o teste antes de apresentarem sintomas. Isso pode acontecer por inúmeros motivos", diz Ricardo Fernandes em entrevista ao SAPO Lifestyle.

"Fazer o teste a estas infeções é fundamental pois sabe-se que, quanto mais tardio for o diagnóstico, maior é a probabilidade de se sofrer complicações de saúde e de estas serem transmitidas a outras pessoas", alerta o responsável do GAT.

Quem é diagnosticado com a infeção pelo VIH pouco tempo após esta ter ocorrido, se lhe for prescrito o tratamento antirretroviral, pode viver uma vida tão saudável quanto a da população seronegativa.

A Semana Europeia do Teste VIH-Hepatites decorre entre 18 a 25 de novembro. O objetivo é sensibilizar a população portuguesa para a importância do rastreio precoce do VIH e hepatites virais.

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Mais investimento

"O Estado Português deveria adoptar mais medidas que promovam o diagnóstico precoce da infeção pelo VIH e o rápido acesso aos cuidados de saúde e tratamento, já que quase 50% das pessoas é diagnosticada numa fase avançada da doença o que comporta riscos adicionais para a saúde pública, custos adicionais e um impacto maior na saúde individual da pessoa em causa", recorda Ricardo Fernandes. "Este investimento deve ser feito especialmente naquelas populações que sabemos mais vulneráveis a estas infeções", acrescenta.

Existem novos meios de prevenção a infeção, como a profilaxia pre-exposição (PrEP) já aprovada na Europa e ainda não implementada em Portugal. "A PrEP consiste na toma diária de um medicamento que previne as infeções por VIH em quase 100% dos casos. É urgente que se defina em Portugal o uso da PrEP e que se passe à prática", refere o responsável.

Semana europeia 

"Os testes feitos no âmbito da Semana Europeia do Teste VIH-Hepatites são testes rápidos, feitos através de uma simples picada no dedo. Têm uma sensibilidade de 99,8%, possuindo o habitual período janela de 90 dias após a última exposição. No que à hepatite C diz respeito, o teste usado tem 100% de sensibilidade e o período janela é mais extenso, como é comum no rastreio desta infeção, atingindo os 180 dias. Por último, em relação à hepatite B, o período janela é inferior aos restantes - 60 dias após a exposição ao vírus - e têm uma sensibilidade de 98,33%", explica Ricardo Fernandes.

"Sempre que há um resultado positivo para cada uma destas infeções, oferecemos à pessoa rastreada a possibilidade de encaminhamento para o Serviço Nacional de Saúde", conclui.

Em 2015, a Semana Europeia do Teste alargou o seu âmbito de intervenção em 2015, juntando ao rastreio de VIH, o rastreio às hepatites B e C, prevalentes em alguns dos grupos mais vulneráveis à infeção pelo VIH.

Na Semana Europeia do Teste VIH-Hepatites de 2015, foram feitos aproximadamente 2.000 testes de VIH, dos quais 27 tiveram resultado reativo; 400 testes à hepatite B, dos quais 5 tiveram resultado reativo; e 500 testes à hepatite C, com 12 resultados reativos.

Ao longo desta semana, será possível fazer o teste de VIH e hepatites virais em 26 locais em Portugal continental, geridos pelas 21 organizações da sociedade civil. Os testes são gratuitos, rápidos e anónimos.

Quem deve fazer o teste?

A semana do teste é direcionada a populações em maior vulnerabilidade para o VIH e hepatites virais B e C.

Esses grupos incluem, mas não estão limitados a: homens que fazem sexo com homens (HSH), migrantes (incluindo pessoas originárias de países com maior prevalência), trabalhadores do sexo, reclusos e utilizadores de drogas injetáveis.

A Hepatite B e C afeta cerca de 28 milhões de pessoas que são amplamente subestimadas e subnotificadas. Devido à falta de sintomas estas doenças infeciosas são muitas vezes referidas como a epidemia silenciosa.

O diagnóstico tardio do VIH e/ou hepatite B e C aumenta a propensão para complicações de saúde e a transmissão do vírus para outras pessoas, em ausência do tratamento.

A maioria das pessoas que são diagnosticadas precocemente (logo após a infeção), e a quem são prescritos tratamentos antirretrovirais em tempo útil, podem viver uma vida saudável e ficarem também completamente livres do vírus se infetados com hepatite C.