7 de março de 2013 - 09h50
Investigadores da Universidade dos Açores procuram identificar compostos químicos produzidos por algas e plantas terrestres existentes nas ilhas e suscetíveis de serem utilizados como medicamentos, nomeadamente no combate ao cancro, um potencial que ainda está por provar.
“Quer da parte da biologia, quer da parte da química estamos unânimes que temos aí potencial. Agora é preciso provar esse potencial. Estamos nessa fase”, afirmou à agência Lusa a investigadora Ana Seca, alegando que “em cada 20.000 compostos avaliados apenas um chega a ser comercializado” devido aos elevados valores envolvidos em testes e certificações.
Muitos dos medicamentos prescritos atualmente foram inicialmente descobertos na natureza, derivando de compostos bioativos produzidos por plantas, daí a importância dos estudos fitoquímicos, que permitem conhecer os constituintes químicos das plantas e descobrir novas moléculas biologicamente ativas.
A equipa de investigadores do departamento de Ciências Tecnológicas da academia açoriana dedica-se há vários anos ao estudo fitoquímico das plantas existentes no arquipélago, estando neste momento em curso duas investigações distintas, uma sobre o cedro do mato (espécie endémica dos Açores) e outra, mais recente, sobre algas.
Ana Seca adiantou que desde 2008 estão a ser estudadas as algas existentes em diferentes pontos da costa da ilha de S. Miguel, acreditando que têm potencial “devido às características do mar dos Açores, temperatura, ondulação e limpeza”.
No caso do cedro do mato, única planta conífera dos Açores, não há para já nenhuma aplicação ao nível farmacológico, mas segundo Ana Seca estudos já realizados concluíram tratar-se de uma planta “muito resistente ao apodrecimento”, sendo que outras espécies do género são usadas como diurético, anticético e no tratamento de doenças como a artrite reumatoide, entre outras.
A investigadora revelou, ainda, estar neste momento a co-orientar o estudo de uma aluna da Universidade de Aveiro, iniciado em janeiro, à casca do cedro do mato, uma parceria entre instituições de ensino superior que considerou “uma mais-valia e facilitadores do aprofundamento da investigação científica”.
Segundo Ana Seca, o que demora mais nestes processos de investigação não é tanto isolar os compostos químicos, perceber a estrutura e a eventual aplicação farmacológica, mas sim a fase de comercialização, que “é muito dispendiosa”.
No início de setembro, Ana Seca espera poder apresentar, na Alemanha, novos dados sobre as investigações, durante o congresso internacional da Sociedade para a Investigação de Plantas Medicinais e Produtos Naturais.
Lusa