
A iniciativa dos cheques-dentista foi implementada em 2008 para dar resposta à ausência de cuidados de saúde oral no Serviço Nacional de Saúde. A medida entrou em casa dos portugueses com o propósito de beneficiar sobretudo grávidas e crianças até aos 13 anos. Em 2017, a abrangência dos vales foi alargada até aos 18 anos, chegando a mais de 2 milhões e meio de utentes.
Um dos principais benefícios dos vales é, não só, o tratamento gratuito de cáries ou outros problemas dentários, mas também a deteção e prevenção de casos de cancro oral e lesões potencialmente malignas.
No entanto, um terço dos cheques-dentista emitidos pelo Governo vão parar ao lixo, revela hoje o Jornal de Notícias.
Benefícios em números
As crianças portugueses, que beneficiam do cheque dentista, têm hoje menos cáries e sobretudo são tratadas atempadamente e ensinadas a prevenir a doença, indica o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), Orlando Monteiro da Silva. "Os maiores beneficiários do programa são sem dúvida as crianças e jovens", explica.
Desde 2008 foram emitidos, ao abrigo do Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral (PNPSO), 4,3 milhões de cheques-dentista. Destes, cerca de 1,14 milhões (27%) não chegaram a ser utilizados. Os vales para consulta atribuídos às crianças e jovens são os mais frequentes, mas também os mais desperdiçados.
Por outro lado, o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas quer o alargamento dos cheques-dentista, porque considera que é “um erro brutal em termos de saúde pública” só acompanhar de forma regular as crianças a partir dos seis anos.
Atualmente, o cheque dentista é distribuído a partir dos seis anos e abrange apenas as crianças que frequentam escolas do ensino público.
"Aos 24 meses já têm a sua dentição temporária colocada na boca e é também necessário tratar os dentes de leite. São dentes temporários, mas são dentes para conservar e tratar", afirma Orlando Monteiro da Silva, em declarações à Lusa a propósito do barómetro da saúde oral relativo a 2018.
O bastonário indica que há a perceção errada de que os dentes de leite não são para cuidar, vigiar e tratar e apela a que pais e educadores “higienizem e tratem os dentes de leite exatamente como os definitivos”.
"O cheque dentista devia estar disponível a qualquer criança a partir dos dois anos, sendo uma medida que iria diminuir ainda de forma mais vincada a prevalência de cárie dentária", considera Orlando Monteiro da Silva, sublinhando que é "constrangedor ver crianças de 4 ou 5 anos com os dentes temporários todos cariados".
Segundo o barómetro da saúde oral 2018, quatro em cada dez portugueses não vão ao dentista há mais de um ano e quase um terço da população diz que nunca vai ao dentista ou só vai em caso de urgência.
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