De acordo com os resultados do estudo, realizado em 34 países, incluindo os lusófonos Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, mais de metade (53%) dos africanos falhou tratamentos e/ou não comprou os medicamentos de que precisava pelo menos uma vez nos 12 meses anteriores ao inquérito.

Destes, um em cada cinco, ou seja 18%, vive privado de cuidados médicos e não consegue comprar medicamentos “muitas vezes” ou “sempre”.

O estudo revela que a privação de tratamentos médicos é rara nas Maurícias, onde apenas 1% da população disse ter falhado consultas ou toma de medicamentos com regularidade, mas é frequente em países como o Gabão (37%), Togo (35%), Níger (34%) e Guiné-Conacri (34%), onde um terço dos cidadãos declararam ter passado “muitas vezes” ou “sempre” sem esses cuidados.

O Botsuana e as Maurícias surgem no estudo como os únicos países com boas avaliações em todos os critérios do inquérito: privação de cuidados médicos e de medicamentos, proximidade de serviços médicos, dificuldades de acesso, tempos de espera e pagamento de subornos.

A Libéria e o Uganda registam as piores avaliações, estando apenas acima do terço dos países pior classificados na proximidade dos serviços médicos.

Entre os países lusófonos, Moçambique apresenta as piores taxas, com 15% dos inquiridos a admitirem que “raramente” ou “nunca” têm acesso a um médico ou compram medicamentos, 26% a dizerem que falham “muitas vezes” os tratamentos e 21 por cento “pontualmente”.

Em Cabo Verde, 7% responderam que as idas ao médico e a compra de medicamento sãos raras ou nunca acontecem, 10% reconhecem que não vão ao médico ou compram medicamentos “muitas vezes” e 16% “uma ou duas vezes”.

Em São Tomé e Príncipe, a percentagem de população que respondeu passar anos sem nunca ir ao médico ou comprar medicamentos é de 3%, sendo que 13% relatam falhas na assistência médica e medicamentos “muitas vezes” e 23% “uma ou duas vezes”.

São Tomé e Príncipe surge classificado com as melhores avaliações em todos os indicadores, exceto na proximidade dos serviços médicos.

Globalmente, a falta de cuidados médicos é duas vezes mais frequente nas populações rurais (22%) comparadas com as urbanas (12%) e entre os trabalhadores informais (20%) quando comparado com os empregados a tempo inteiro (11%).

Os inquiridos com níveis de educação mais baixos e mais velhos são os mais afetados pela falta de acesso a cuidados de saúde, um dos principais indicadores de pobreza, sendo que esta forma de privação surge relacionada com outras como a falta de comida, acesso a água potável, combustível para cozinhar e rendimento em dinheiro, de acordo com o Afrobarómetro.

O inquérito do Afrobarómetro foi realizado antes da propagação da pandemia de Covid-19 em África, através de cerca de 46 mil entrevistas em 34 países, e pretende traçar um retrato das experiências dos africanos na sua relação com os serviços de saúde.

A sua divulgação antecede o Dia Mundial da Saúde, que se assinala a 07 de abril.