De acordo com os dados mais recentes, incluídos no trabalho “Crianças sem confirmação diagnóstica de tuberculose – quais os critérios para iniciar tratamento em Portugal?”, da investigadora Sara Martins, do ISPUP, do total de casos de tuberculose diagnosticados em Portugal, 0,7% ocorrem em crianças com menos de seis anos.

Segundo a investigadora, estudos anteriores demonstraram que nas crianças com menos de seis anos a confirmação do diagnóstico de tuberculose é baixa (19,2% a nível europeu em 2009 e 27,6% a nível nacional de 2000 a 2009).

Com o objetivo de identificar os critérios que levam os clínicos a iniciar tratamento antibacilar em crianças com menos de seis anos sem confirmação do diagnóstico, os autores implementaram um inquérito online, dirigido a médicos a nível nacional com experiência em tuberculose.

Com vista a iniciar o tratamento sem confirmação diagnóstica, foram valorizados o contexto epidemiológico (72%), alterações radiológicas (62%), história clínica e resultados de testes imunológicos (55%).

A decisão de iniciar tratamento sem confirmação do diagnóstico foi baseada na história de contacto recente, história clínica (principalmente febre prolongada) e na presença de alterações radiológicas.

Dos 65 inquéritos enviados, 29 (44.6%) estavam completos. Os inquiridos apresentavam uma média de 15,5 anos de experiência em tuberculose e 11,7 anos de experiência em tuberculose infantil.

Os dados foram divulgados numa sessão de apresentação e debate sobre Trabalhos de Investigação na área da Tuberculose, que decorreu no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

Vários investigadores do ISPUP deram a conhecer os trabalhos de investigação que têm vindo a ser desenvolvidos pelo Instituto na área da tuberculose, sensibilizando para as questões que envolvem a doença, particularmente em Portugal.

Um desses trabalhos, “Tuberculose em população nascida em Portugal e no estrangeiro – o que as diferencia”, do investigador João Paulino, verificou que, em 2013, 17% dos casos de tuberculose ocorreram em doentes nascidos fora do país.

Este estudo pretendeu caracterizar a tuberculose em população nascida em Portugal e no estrangeiro, os fatores de risco mais frequentes em cada uma das populações, as diferenças no tempo de diagnóstico, resultado do tratamento e ainda identificar barreiras na abordagem dos doentes nascidos no estrangeiro.

Para esse efeito foram analisados os dados do sistema de vigilância de tuberculose nacional e foi aplicado um inquérito online a médicos que tratam casos de tuberculose no país.

Verificou-se que os doentes nascidos no estrangeiro eram mais jovens, sendo menos frequente o desemprego, o consumo de álcool ou drogas nesta população quando comparado com a população nativa doente.

O fator de risco mais frequente foi a infeção por VIH. Na população nativa doente, os fatores de risco identificados como mais frequentes foram o consumo de álcool ou drogas, infeção VIH e ser sem-abrigo.

De acordo com a investigação, o tempo até ao diagnóstico, assim como o resultado do tratamento foi semelhante nas duas populações, refletindo a acessibilidade aos cuidados da tuberculose – as consultas e o tratamento são gratuitas e de livre acesso a toda a população.

As barreiras mais frequentemente detetadas pelos clínicos na abordagem destes doentes foram a língua e o medo de deportação (nos imigrantes em situação irregular).

Em Portugal, a incidência de tuberculose tem vindo a diminuir tendo ultrapassado este ano, de acordo com os dados provisórios do Programa Nacional de Luta Contra a Tuberculose (PNT), o limiar da baixa incidência (20/100000 habitantes).