Os dados constam do Barómetro sobre telessaúde e inteligência artificial no sistema de saúde e vão ser hoje apresentados numa conferência em Lisboa.
Ao todo, cerca de 75% das instituições de saúde já têm implementados projetos de telessaúde, o que inclui os cuidados de saúde primários. No universo dos hospitais do SNS são 87% as unidades que já aplicam estas ferramentas de saúde, consideradas pela Organização Mundial da Saúde como fundamentais para melhorar o acesso aos cuidados.
Mais de metade dos hospitais usam o rastreio à distância, nomeadamente na área da dermatologia, e também mais de 50% têm teleconsultas, segundo os dados a que a agência Lusa teve acesso.
Com menor expressão nos hospitais do SNS, surgem as áreas da teletriagem e da telerreabilitação, que serve para acompanhar e dar recomendações a doentes que estão em casa.
Para 96% das instituições inquiridas a telessaúde tem um papel “muito importante” na monitorização de doentes crónicos e para 75% permite reduzir as readmissões hospitalares.
Apesar da importância que é atribuída, seis em cada 10 instituições considera que a infraestrutura tecnológica (como acesso à internet ou largura de banda) é a principal barreira no desenvolvimento da telessaúde.
“Claramente a maior barreira é a infraestrutura tecnológica. Muitas vezes, nos hospitais, mesmo internamente, ainda hoje os terminais [computadores] usados pelos profissionais de saúde têm muitas limitações”, comentou à Lusa Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), uma das instituições envolvidas no Barómetro.
A infraestrutura tecnológica é também um dos motivos encarados como barreira à adoção de projetos de inteligência artificial, a par da falta de “cientistas de dados”. Segue-se a ausência de recursos financeiros.
No que respeita à inteligência artificial, apenas 47% das instituições têm projetos em implementação ou em fase piloto. Transcrição por voz, agendamento de atividades clínicas e interpretação ou extração de informação dos processos clínicos são as áreas com mais projetos em curso.
“É uma área que tem ainda uma grande limitação, até porque depende da qualidade dos dados que existem”, afirmou Alexandre Lourenço.
O presidente da APAH acrescenta ainda que as tecnologias da inteligência artificial têm custos acrescidos e que os hospitais hoje, “dadas as restrições financeiras, não têm disponibilidade para investir”.
Para que Portugal tenha “um avanço mais consistente” é preciso ter “uma percentagem garantida dos orçamentos do SNS dedicados a estas áreas”, sugere Alexandre Lourenço, frisando que são questões essenciais para melhorar o acesso dos doentes.
O representante dos administradores hospitalares considera que o sistema de saúde português “não se adaptou da forma como seria desejável” a estas questões tecnológicas, ao contrário do que sucedeu em áreas como o retalho ou o setor bancário, por exemplo.
O Barómetro sobre telessáude e inteligência artificial no sistema de saúde é uma iniciativa da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, da Escola Nacional de Saúde Pública, dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde e da empresa de tecnologia e consultoria Glintt.
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