Na véspera de se assinalar o Dia Mundial Sem Tabaco, especialistas falaram à agência Lusa sobre esta “publicidade subliminar” encontrada, por exemplo nas bombas de gasolina, numa altura em que se discute as alterações à lei do tabaco e em que o Governo já recuou e decidiu que os postos de venda de combustíveis vão continuar a vender tabaco.
Uma decisão que o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, justificou por se ter constatado que havia muitas localidades onde não existiam alternativas.
Para a coordenadora da Comissão de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, Sofia Ravara, a restrição dos pontos de venda é uma das “medidas mais importantes e mais robustas” ao combate ao tabagismo porque dificulta o acesso ao tabaco.
Por outro lado, disse, “são as montras privilegiadas da publicidade e do marketing da indústria do tabaco, que está impedida de fazer o marketing noutros locais, e as bombas de gasolina são das montras mais sofisticadas”.
“Não é nada por acaso, porque qualquer criança acompanha o pai ou a mãe numa viagem e vai ter sempre esta paragem obrigatória nas bombas de gasolina e vai estar exposta a este tipo de publicidade subliminar”, afirmou a pneumologista, sublinhando que está demonstrado que as crianças e jovens que frequentam mais estes locais são os que mostram “atitudes mais positivas em relação ao tabagismo e uma maior vulnerabilidade para quererem experimentar o tabaco”.
Segundo a pneumologista, estas montras também são “muito eficazes” para promover a “compra por impulso”: “Não só os fumadores, mas também quem já deixou de fumar, quando passam por uma montra toda pensada para exigir esse desejo de fumar, desperta de uma forma não consciente esse impulso de comprar o maço de tabaco”, advertiu.
Para o coordenador da Comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Paulo Côrrea, a decisão dos postos de combustíveis poderem continuar a vender tabaco é “um enorme e inaceitável retrocesso na legislação de Portugal”, defendendo que essa medida “deve voltar à lei” que vai ser debatida na Assembleia da República.
“A indústria está a querer manter as vendas em postos de gasolina porque quem compra maciçamente nesses lugares são os jovens. Então o que a indústria quer é continuar a transformar os jovens portugueses em adictos dependentes da nicotina”, lamentou o pneumologista.
Deu como exemplo vários estudos realizados na Califórnia, “um Estado que parece um país em termos de políticas de controlo do tabagismo”, que mostram que, “nos Estados Unidos, 47% das vendas ilegais de cigarros acontece justamente em postos de gasolina por causa da ausência de fiscalização”.
O investigador no Brasil, onde as políticas de controlo do tabagismo avançaram muito, apesar de ser o segundo país produtor mundial e um dos maiores exportadores de tabaco, salientou que “Portugal está na cauda da Europa em termos de controlo do tabagismo”, recordando que essas regras são “uma necessidade imposta” pela ratificação da Convenção Quadro de Controlo do Tabaco por Portugal em 2007 e, como tal, “Portugal está a falhar em cumprir as suas obrigações”.
Hilson Cunha Filho, dirigente da Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo, também manifestou preocupação com o ‘marketing’ nos pontos de venda destes produtos, lembrando que a publicidade ao tabaco é proibida.
Para o investigador, estes locais de venda deveriam ser alterados, não só no que diz respeito às máquinas automáticas, mas também a forma como esta venda é feita e o espaço físico que é ocupado nos pontos de venda.
“É um assunto mais complexo do que parece”, disse o especialista em saúde pública, explicando que além da disponibilidade de pontos de venda de tabaco no mercado, também a arquitetura desses pontos de venda devia ser alterada porque facilita o acesso, nomeadamente aos menores de idade.
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