“Em março, no hospital de Portimão, há 13 turnos de 12 horas [das 21:00 às 09:00] sem médicos pediatras escalados. Nessas noites, praticamente metade das noites do mês, a maternidade estará como que encerrada”, afirmou à Lusa João Dias, secretário regional do Algarve do SIM.
Questionada pela Lusa, fonte do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA) afirmou que na unidade hospitalar de Portimão se “registam apenas cinco turnos noturnos em que ainda não foi possível completar a referida escala” e que o Conselho de Administração está a trabalhar com a direção do serviço no sentido “de preencher os períodos em falta”.
Assim, nos períodos em que não seja possível garantir o apoio de Pediatria em Portimão, as mulheres em trabalho de parto e as parturientes de risco “serão encaminhadas, como estipula o protocolo, para a unidade de Faro”, assegurou a mesma fonte.
O dirigente sindical avisou, contudo, que só há “seis médicos no ativo”, alguns dos quais já “não fazem urgências”, e que as recomendações indicam que deveria haver “dois por turno”, o que, tendo a conta os sete dias na semana, significa que a Pediatria devia ser assegurada por “mais de vinte profissionais".
João Dias alertou que depois de escalados “os dois médicos obrigatórios na Neonatologia”, ainda é necessário “garantir as outras atividades na consulta externa”, como o internamento e a urgência pediátrica, que muitas vezes, “estão a ser garantidas por médicos de saúde geral e familiar, quando deveriam ser pediatras”.
A mesma fonte do CHUA sublinhou que o atendimento na Urgência de Pediatria do hospital de Portimão “também não será comprometido”, estando assegurado pela equipa de clínicos gerais, encontrando-se “aberta e a funcionar”.
O CHUA sublinhou que a prestação de cuidados “está garantida”, argumentando que o centro hospitalar algarvio “dispõe de duas unidades hospitalares, as quais funcionam de forma articulada na organização do trabalho e na partilha de recursos”.
Em relação ao hospital de Faro, João Dias apontou a existência de problemas no serviço de Obstetrícia, no qual “60% dos médicos” são contratados externamente, pagos a 50 euros à hora, havendo uma “enorme dificuldade” em contratualizar esse médicos, “que se entende a outras especialidades”.
O dirigente do SIM no Algarve sublinhou que a falta generalizada de médicos está a levar os hospitais centrais a “aumentar o valor pago aos externos”, reduzindo, ainda mais, o número de profissionais a quererem sair dos grandes centros urbanos, como Lisboa, Porto ou Coimbra.
“Se não há médicos a garantir o serviços e se estamos a funcionar com um terço dos quadros, nos limites, com urgências a funcionarem com os mínimos que a Ordem [dos médicos] propõe, isto coloca em perigo os utentes”, avisou.
João Dias admitiu, no entanto, que a administração do CHUA não consegue fazer “omeletes sem ovos” e que a situação é uma “incapacidade de organização” do próprio Ministério da Saúde, que “está na mãos do ministro da Finanças” com os constantes cortes, “não acarinhando” os profissionais do SNS e “incentivando à saída da função pública”.
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