Há reticências por parte de um número considerável de homens em recorrer a consultas no quadro da saúde sexual masculina. Em abono da literacia em saúde, que argumentos podemos usar para derrubar preconceitos e receios?
Os homens continuam a viver em média muito menos anos do que as mulheres. Isto deve-se a vários fatores, mas um dos mais importantes é não recorrer atempadamente a cuidados de saúde. Sendo assim, o principal argumento é normalizar o tema. Tal como nas mulheres a ida ao ginecologista é considerada normal e aconselhável desde a adolescência, se os jovens fossem habituados a irem a uma consulta de urologia, também encarariam a sua saúde, e mais especificamente a sua saúde sexual, com mais naturalidade, apostavam na prevenção e em caso de qualquer alteração procurariam ajuda mais precocemente. É necessário também continuar a formar os profissionais de saúde para estarem preparados para abordar o tema, ou responderem ao paciente, caso o assunto seja abordado por ele.
Por outras palavras, de que forma podem as consultas de rotina no contexto da saúde sexual masculina contribuir para uma melhor qualidade de vida?
Tal como em muitos aspetos da nossa vida, a prevenção é o melhor remédio. E as consultas de rotina servem exatamente para isso, para antecipar diagnósticos e detetar precocemente eventuais problemas. A deteção precoce de condições de saúde sexual, como disfunção erétil, doenças da próstata ou infeções sexualmente transmissíveis, é fundamental para um tratamento mais eficaz. A antecipação no diagnóstico permite intervir rapidamente, minimizando os impactos físicos e psicológicos quando identificados e tratados atempadamente. Adicionalmente, problemas como a disfunção erétil, podem ser sinais de outras condições subjacentes, como doenças cardiovasculares ou diabetes, alertando para a necessidade de uma abordagem mais abrangente à saúde do paciente.
Os homens continuam a viver em média muito menos anos do que as mulheres. Isto deve-se a vários fatores, mas um dos mais importantes é não recorrer atempadamente a cuidados de saúde.
Que exames considera essenciais no quadro atrás referido no sentido da prevenção de problemas? Estes exames variam de acordo com a idade dos visados?
Diria que os exames devem ser ajustados às queixas, ou seja, à história clínica, e à idade dos pacientes. De uma forma global, os exames essenciais que podem ser considerados passam pelo exame físico geral, que pode incluir a avaliação da próstata, testículos e pénis. Acrescem os exames de sangue, como o controlo dos níveis de testosterona, glicose, colesterol, e marcadores de doenças sexualmente transmissíveis nos casos aplicáveis.
Também considero relevante a avaliação da função sexual, que pode envolver questionários clínicos ou exames mais específicos, como o Ecodoppler vascular colorido peniano, em casos de disfunção erétil ou de curvaturas penianas.
Por último, mas também importante, refiro o exame ao PSA (Antigénio Prostático Específico), para rastrear possíveis problemas na próstata, especialmente em homens a partir dos 45 anos.
Qual é o impacto de um diagnóstico precoce em condições como a disfunção erétil ou doenças da próstata?
A antecipação no diagnóstico permite intervir rapidamente, minimizando os impactos físicos e psicológicos. Como falamos anteriormente, cada vez mais a investigação médica destaca o papel da disfunção erétil como um indicador crítico da saúde e do bem-estar geral do homem. Afetando cerca de 52% dos homens com idades entre os 40 e os 70 anos, a disfunção eréctil não é apenas frequente, mas também pode servir como um sinal de alerta precoce para problemas de saúde graves, como doenças cardiovasculares, diabetes e distúrbios de saúde mental. A disfunção eréctil é assim um componente-chave dos cuidados de saúde preventivos, levando os profissionais de saúde e os indivíduos a reconhecerem o seu significado para além do quarto.
Cada vez mais a investigação médica destaca o papel da disfunção erétil como um indicador crítico da saúde e do bem-estar geral do homem.
Como recomenda que os homens abordem a questão da fertilidade com os seus médicos, considerando que ainda é um tema sensível?
Apesar de os homens se sentirem constrangidos em aceitar o seu papel na fertilidade do casal, cada vez mais há mais informação e são os próprios doentes que me procuram para realizar testes de fertilidade, quando infelizmente as suas companheiras já passaram por processos longos e por vezes dolorosos de investigação de situações de infertilidade do casal sem que o homem tenha feito pelo menos um espermograma.
Mais ainda, homens que têm problemas de fertilidade por situações tão graves como, por exemplo, tumores do testículo, podem passar por todo este processo sem terem o diagnóstico e o tratamento adequado que pode salvar as suas vidas.
Quais são os principais sintomas de alerta para as doenças da próstata?
Os principais sintomas de alerta para os problemas na próstata passam pela dificuldade em urinar, urinar muito frequentemente, particularmente de noite, dor durante a ejaculação, presença de sangue no sémen ou desconforto na área pélvica. Importa relembrar que existem tratamentos minimamente invasivos nesta área que poupam a área sexual, tanto na hiperplasia benigna da próstata como no cancro da próstata, desde que o diagnóstico seja atempado. Mais uma vez aqui, alerta-se para a importância do recurso precoce a uma consulta com o seu urologista.
No que respeita ao cancro da próstata, há estilos de vida que podem minimizar o risco de desenvolvimento desta patologia?
Infelizmente não existem conselhos específicos ou suplementação especifica que seja consensualmente aceite para a prevenção do cancro da próstata. Tal como para a prevenção de qualquer outra doença, manter um estilo de vida saudável e uma alimentação equilibrada são fundamentais, tal como não fumar e não ter o hábito de consumir bebidas alcoólicas.
Que efeitos secundários podem surgir após o tratamento para doenças da próstata e de que forma afetam a saúde sexual masculina?
Temos de diferenciar os tratamentos para a hiperplasia benigna da próstata, que raramente têm complicações sérias na esfera sexual, dos principais efeitos secundários após tratamento do cancro da próstata e que podem afetar a saúde sexual masculina, e que são a disfunção Erétil, ou seja, dificuldade em ter ou manter uma ereção, redução da firmeza do pénis durante a ereção. Também frio a anejaculação, ou seja, a incapacidade de ter a ejaculação durante a relação sexual; assim como a climatúria, ou seja, perda de urina aquando do orgasmo.
E com todos estes problemas, apresentar secundariamente, baixa Líbido, ou seja, falta de interesse em atividades sexuais, diminuição do desejo sexual ou ausência de pensamentos sexuais.
Há uns anos criou uma aplicação para telemóvel denominada "Men's Sexual Medicine". Volvidos nove anos, que avaliação faz da procura desta aplicação?
Como em muitas situações do género, a App surgiu antes do seu tempo e a adesão foi muito superior em outros países que não Portugal. Entretanto, a sua utilização foi temporariamente cedida à indústria farmacêutica e à Sociedade Europeia de Medicina Sexual que não deram o seguimento que esperávamos. Seguimos então para outros projetos mais relacionados com social media na área da medicina sexual que estamos a desenvolver neste momento com colegas de Espanha.
Comentários