Todos sabemos que o ambiente produz efeitos consideráveis na saúde. Seja de forma direta, como as variações de mortalidade com os fenómenos meteorológicos extremos ou devido ao impacto da poluição atmosférica, ou através de uma forma indireta, por exemplo, ao alargar as condições favoráveis à vida e reprodução de mosquitos transmissores de doenças, a regiões onde estes não existiam.
Menos debatido e divulgado, é a relação inversa: a forma como a saúde pode influenciar o ambiente. Desde uma reflexão sobre as práticas dos cuidados de saúde, ou a própria forma como os edifícios estão construídos e mantidos, sem esquecer a gestão dos resíduos hospitalares.
O setor da saúde chega tardiamente à problemática ambiental, mas o conceito de saúde verde pretende alterar esta situação. É necessário incorporar as melhores práticas ambientais no setor e encarar este movimento, como um verdadeiro investimento no nosso futuro, não uma despesa fútil.
Uma instituição comprometida com esta mudança, teria a ganhar em várias dimensões. Constituí um fator de diferenciação que promove a retenção de profissionais e melhora o envolvimento com a comunidade demonstrando liderança. É uma fonte de aprendizagem e conhecimento, que atraí a academia. Por fim, talvez os melhores argumentos, poupa dinheiro e promove a saúde e bem-estar.
Os benefícios para a saúde podem ser classificados em três ordens de grandeza. Começando na escala local, na diminuição da poluição atmosférica circundante, ao efetivar as leis antitabaco ou a incentivar medidas que reduzam o tráfego automóvel, estamos a reduzir o número de trabalhadores e utentes expostos a agentes nocivos para a sua saúde.
Na escala regional, temos bastantes medidas que devem ser implementadas. A melhoria dos processos de reciclagem, evitando que papel e cartão tenham como destino o lixo comum, assim como, políticas de tolerância zero para a utilização de plásticos descartáveis não clínicos devem ser prioritários. Evoluir as ligações com a comunidade, com melhores transportes públicos e ciclovias, diminuir o desperdício de água e melhorar o isolamento térmico, ou a ambição de se tornar num edifício carbono neutro, também são objetivos realistas e indispensáveis.
Pensado de uma forma mais global, a adoção de uma política de compras de proximidade a produtores locais, a manutenção do teletrabalho e reuniões online sempre que possível e efetuar as deslocações oficiais de comboio, são medidas que se inserem nesta dimensão. Permitem reduzir a pegada de carbono da instituição, contribuindo para a economia e desenvolvimento local.
O Programa de Recuperação e Resiliência tem um foco na saúde assim como no ambiente. Será de uma enorme importância que não seja esquecido a interseção entre os dois. É necessário sinalizar a vontade de mudança, envolvendo tanto o poder central como o local. Porque não envolver as instituições de saúde nos planos locais de ambiente, ou ter um capítulo sobre ambiente nos planos locais de saúde?
Temos de realmente começar a falar mais sobre este tema. Quantas vezes ouvimos a expressão “a saúde tem de ser sustentável”? É tempo de responder, com convicção e um sorriso: “sim, ambientalmente sustentável!” O objetivo final é muito mais do que apenas evitar os malefícios da emergência climática, mas sim, promover a saúde e o bem-estar da comunidade, com o conhecimento que não estamos a desperdiçar recursos e que reduzimos os riscos da exposição ao mercado energético. Mas mais importante, é saber que estamos a fazer o que está correto, deixar um mundo melhor para os nossos filhos.
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