13 de novembro de 2013 - 07h57
Uma década dedicada à investigação dos efeitos do meio ambiente no desenvolvimento do cancro de mama, tanto em cobaias de laboratório quanto em jovens saudáveis, apresentou várias surpresas.
No centro da investigação estão 1.200 jovens americanas em idade escolar que, embora sejam saudáveis, ofereceram uma pista importante sobre as origens da doença.
Alguns fatores de risco já eram conhecidos, como a puberdade precoce, idade de gravidez ou de menopausa tardia, terapia de reposição hormonal, ingestão de álcool ou exposição à radiação solar. Também foram feitos avanços na identificação das mutações vinculadas à doença, mas estes casos são uma minoria.
"A maioria dos cancros de mama, particularmente em mulheres jovens, não têm origem familiar", disse Leslie Reinlib, diretora de programas dos Institutos Nacionais de Ciências da Saúde Ambiental.

Casos relacionados com o meio ambiente
"Temos 80% de casos que estão relacionados com o meio ambiente", afirmou Reinlib, participante do programa de estudos sobre cancro da mama e meio ambiente, que recebeu 70 milhões de dólares de financiamento do governo americano desde 2003.
Alguns dos seus cientistas estudam o que está a acontecer na população humana, enquanto outros examinam como elementos cancerígenos, contaminantes e alimentares afetam o desenvolvimento da glândula mamária e os tumores mamários em ratos de laboratório.
Puberdade precoce principal fator de risco
O principal foco do programa concentra-se na puberdade, já que a sua ocorrência precoce "é provavelmente um dos melhores elementos de previsão de cancro da mama em mulheres", disse Reinlib.
A puberdade é um momento de grande desenvolvimento do tecido mamário. Os estudos feitos em sobreviventes da bomba atómica em Hiroshima, no Japão, demonstraram que aqueles que estiveram expostos na puberdade tinham maiores hipóteses de desenvolver um cancro ma fase adulta.
As 1.200 jovens que participaram no estudo em cidades como Nova Iorque, o nordeste do estado da Califórnia, Cincinnati e Ohio começaram a ser acompanhadas em 2004, quando tinham entre seis e oito anos.

O objetivo era medir a exposição das jovens a substâncias químicas através de exames de sangue e urina e aprender como a exposição ao ambiente afeta a ocorrência da puberdade e o risco de cancro mais tarde na vida.
Os cientistas perceberam muito rapidamente que o esforço em estudar as meninas antes da puberdade não foram completamente bem sucedidos. "Aos oito anos, 40% já estavam na puberdade", disse Reinlib. "Esta foi uma informação surpreendente", continuou.
Outras investigações confirmaram que as meninas pareciam ter entrado na puberdade entre seis e oito meses antes que as meninas dos anos 1990.
Os resultados iniciais mostraram "pela primeira vez que ftalatos, bisfenol (BPA) e pesticidas foram encontrados em todas as meninas examinadas", disse Reinlib.
"Não encontrámos uma associação entre puberdade e ftalatos, que são as substâncias químicas que se desprendem de garrafas de plástico e (embalagens como o) Tupperware", afirmou Reinlib.
Outra grande descoberta foi feita ao examinar as substâncias químicas no sangue de dois grupos próximos em Ohio e Kentucky, que tinham consumido água aparentemente contaminada com resíduos industriais.
As meninas no norte do Kentucky tinham níveis de substâncias químicas no sangue - ácido perfluorooctanoico (PFOA ou C-8), encontrado na cobertura de teflon em panelas antiaderentes - três vezes superiores àquelas que consumiam água do rio Ohio, perto de Cincinnati, filtrada utilizando-se tecnologia de ponta.
"Em 2012, implantaram (a tecnologia) após conhecer nossos resultados preliminares", afirmou Susan Pinney, professora da escola de Medicina da Universidade de Cincinnati. As famílias também foram notificadas pela presença destas substâncias no sangue das filhas.

Alimentação e cancro
As substâncias químicas podem permanecer no corpo durante anos. Os cientistas ficaram desanimados ao comprovar que quanto mais tempo as jovens amamentaram os seus bebés - algo que é incentivado, devido aos benefícios para a saúde das crianças -, maiores eram os níveis de PFOA encontrados em comparação com aquelas jovens que deram biberão aos filhos.
O que não foi possível estudar nas meninas foi testado em ratos de laboratório: foram alimentados com dietas ricas em gordura e expostos a substâncias cancerígenas para ver como os dois fatores interagiam.
Os tumores de mama desenvolveram-se muito mais rápido nas cobaias que seguiram uma dieta rica em gordura, disse o cientista Richard Schwartz, do departamento de microbiologia e genética molecular da universidade estadual de Michigan.
Os ratos gordos tinham mais sangue nas glândulas mamárias, um nível de inflamação maior e apresentavam mudanças no sistema imune.
Os estudos mostraram que o risco de desenvolver cancro era mais elevado quando os ratos eram submetidos a uma dieta rica em gordura na puberdade, que em seguida foi substituída por uma dieta magra na idade adulta, disse o cientista à AFP.
Os resultados reforçam o conselho para manter uma boa saúde: evitar comida gordurosa, manter um peso normal e reduzir a exposição a substâncias químicas o máximo possível, defendem os cientistas.
O cancro de mama é o mais comum em mulheres em todo o mundo e em 2011 matou 508.000 pessoas, segundo números da Organização Mundial da Saúde.

SAPO Saúde com AFP