Contactado pela Agência Lusa, Carlos Amado da Silva assumiu que o râguebi português “não tem capacidade” para cumprir as orientações para a retoma dos treinos e competições desportivas, divulgadas hoje pela DGS, e revelou que a FPR apresentou diversas propostas “credíveis e economicamente viáveis” para as quais não obteve qualquer resposta do governo.
“Têm cinco cartas nossas às quais nem responderam e agora, de forma antidemocrática, tomam decisões sem ter em conta nada do que propusemos. A DGS tem estado absolutamente muda, numa atitude de autismo em relação ao râguebi que não tem para as outras modalidades. É público que têm reunido com as modalidades de pavilhão, mas a nós nem nos respondem. Se não têm ideias, ao menos que respondam às nossas”, atirou Amado da Silva.
O dirigente alertou que não está em causa a classificação do râguebi como modalidade de risco elevado, mas sublinhou que o governo “tem de entender que há aqui desigualdades [entre as modalidades] que são inaceitáveis” e deve “criar condições” para que o râguebi possa retomar a atividade, até porque a modalidade “agiu antecipadamente com propostas concretas”, para as quais não terá obtido respostas.
“Compreenderia melhor que o governo assumisse que não pode haver competições, do que criarem condições que não são exequíveis. Se acham que o râguebi é perigoso, que não pode ser jogado porque vai morrer toda a gente, então que o assumam. Antes isso do que esta atitude, que é simplesmente uma desresponsabilização que eu não aceito”, criticou Amado da Silva.
A classificação do râguebi como modalidade de risco elevado nas orientações da DGS obriga a uma testagem de todos os agentes envolvidos na organização dos jogos oficiais até 48 horas antes do momento competitivo e, para os escalões de formação, impede mesmo o contacto físico em contexto de treino.
De acordo com Amando da Silva, a FPR propôs, nas várias missivas enviadas à DGS, que houvesse “uma análise inicial todos os dias” por parte dos médicos dos clubes, com “medição da temperatura corporal” e uma “certificação responsável da isenção de sintomas” para toda a gente envolvida no processo de treino ou competitivo.
Para os escalões de formação, o presidente da FPR admite fazer uma “adaptação momentânea das regras, como, por exemplo, suprimir as formações ordenadas”, mas voltou a lembrar que esse tipo de medidas “discutem-se, não se impõem”.
“Podem não estar de acordo com as nossas propostas, mas ao menos que nos digam porque não estão. Ou então que paguem! O governo tem de nos dar os materiais para podermos colocar de pé as suas normativas ou, no mínimo, responder às nossas propostas. É obrigação deles”, reforçou Amado da Silva.
Ainda segundo o dirigente, em função das orientações divulgadas hoje, o campeonato que estava previsto para começar no último fim de semana de setembro “está absolutamente comprometido” e isso tem implicações diretas nos compromissos da seleção nacional, que vai disputar o apuramento para o Mundial de 2023 a partir de fevereiro.
“Se os clubes não funcionam, as seleções não funcionam. Apesar de termos alguns atletas selecionáveis no estrangeiro, se não houver competição nacional, não pode haver seleção nacional e temos compromissos já em novembro”, lembrou Amado da Silva.
Questionado pela Lusa sobre a exequibilidade de criar condições apenas para um grupo de atletas selecionados, de forma a respeitar os compromissos internacionais das seleções, o dirigente não descartou totalmente a possibilidade, mas assumiu a defesa dos clubes.
“Não nego que a seleção nacional é o meu principal ‘clube’, mas esta não funciona se os clubes não funcionarem. Sou solidário com eles. A equipa nacional é uma seleção de jogadores dos clubes. A FPR é uma federação de clubes e não pode haver aqui uma distinção”, concluiu.
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