O cancro provocou a perda de 170 milhões de anos de vida saudável no mundo só em 2008, indica um estudo hoje divulgado, que alerta ainda para as desigualdades entre pacientes de países ricos e pobres.
Publicado na revista científica 'The Lancet', o primeiro estudo detalhado a calcular o impacto global do cancro em número de anos de vida saudável perdidos pelos pacientes aponta para um total de 169,3 milhões de anos perdidos em 2008.
O número resulta de uma medida conhecida como "anos de vida adaptados à incapacidade" (AVAI) e reúne, não só o número de mortes devido ao cancro, mas também as consequências incapacitantes dos tumores não fatais (por exemplo, a mastectomia num cancro da mama ou a infertilidade num cancro do colo do útero).
Os resultados referem que em 2008 o cancro provocou a perda de 2.369 anos de vida saudável por cada 100 mil habitantes, a maioria dos quais (90%) resultaram de mortes prematuras e o restante de incapacidade.
Liderado por Isabelle Soerjomataram, da Agência Internacional para a Investigação do Cancro, em França, o estudo inclui dados sobre 27 tipos de cancro em 184 países, agrupados em 12 subrregiões e nos quatro níveis de desenvolvimento humano, e destaca grandes desigualdades no impacto da doença.
Quando dividiram os países consoante o índice de desenvolvimento humano, por exemplo, os investigadores concluíram que, embora a diferença pareça pequena a nível dos AVAI, há uma distinção entre o peso relativo das mortes e o da incapacidade.
Os resultados, explica Isabelle Soerjomataram, "refletem uma mortalidade prematura mais elevada nos países de baixo desenvolvimento humano e uma maior taxa de deficiência e incapacidade nos países de alto desenvolvimento humano".
Enquanto na África subsaariana, 96% dos anos perdidos se deveram à morte dos pacientes, na América do Norte essa percentagem baixa para 84%, exemplifica o estudo. Mas há casos em que a diferença é ainda maior, como no cancro dos testículos: nos países de desenvolvimento humano muito elevado, a mortalidade representa 38% do AVAI, enquanto nos de baixo desenvolvimento humano é de 96%.
Isto significa que os doentes com cancro nos países de baixo rendimento "têm piores prognósticos", escrevem os investigadores.
"O nosso estudo representa um primeiro passo para o estabelecimento de uma base de evidência (...) que é urgentemente necessária para estabelecer prioridades no controlo do cancro”, diz Isabelle Soerjomataram.
Freddie Bray, coautor do estudo, sublinha que as conclusões "ilustram claramente como o cancro já é uma barreira para o desenvolvimento sustentável em muitos dos países mais pobres, o que tenderá a exacerbar-se nos próximos anos se o controlo do cancro for negligenciado".
O estudo sublinha que a prevenção primária tem um papel crucial na redução do impacto da doença, já que a melhoria do acesso a tratamentos de elevada qualidade não aumentou de forma significativa a sobrevivência nos casos dos cancros mais graves.
"Os nossos dados sustentam a necessidade de mais atenção à prevenção do cancro e a programas de tratamento nos países de baixo rendimento", concluem os investigadores, que alertam para o previsível aumento do impacto do cancro nos países em desenvolvimento.
16 de outubro de 2012
@Lusa
Comentários