4 de junho de 2014 - 08h01
A qualidade do ar no centro da cidade de Lisboa registou alterações positivas em 2013, no que toca às excedências do valor limite diário e ao número de partículas inaláveis, segundo dados provisórios da Quercus.
“O que podemos dizer, dos dados que já dispomos, é que em 2013 tivemos um menor número de excedências ao valor limite diário da qualidade do ar” entre o Marquês de Pombal e o Terreiro do Paço, o que não acontecia desde 2001, disse hoje à agência Lusa Francisco Ferreira, da Associação Nacional de Conservação da Natureza (Quercus).
O ambientalista falava à margem da sessão “Organização e financiamento do serviço de transportes coletivos em áreas metropolitanas”, promovida pela Assembleia Municipal de Lisboa (AML) e subjacente à temática “Os transportes em Lisboa: o que temos e o que queremos”.
“Em 2005 tínhamos 180 dias em ultrapassagem do valor das partículas inaláveis, e em 2013, apesar de os dados ainda serem provisórios, estamos com 38 dias, muito pouco acima do limite [que é 35]”, acrescentou o coordenador da Quercus na área da energia e das alterações climáticas, referindo que existem “menores emissões e melhor qualidade do ar” naquela zona.
Segundo o também professor da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa, que esteve à frente de um estudo daquela instituição para a autarquia sobre a mesma temática, “a redução de emissões foi de 6% no dióxido de azoto e na ordem dos 16% no caso das partículas”.
Contudo, não é possível saber se esta evolução positiva se deveu às alterações do ordenamento de tráfego na zona do Marquês de Pombal e Avenida da Liberdade ou se está relacionada com a exigência das Zonas de Emissão Reduzida (ZER), que proíbem a circulação de veículos anteriores a 1996 naquela zona, até à baixa pombalina.

Francisco Ferreira alertou para o facto de as pessoas que vivem no centro da cidade terem uma esperança de vida reduzida, devido ao tráfego individual: “Vão ao hospital mais vezes e têm mais problemas respiratórios que o resto” da população.
“Com estes dados mais recentes, a situação é capaz de ser melhor, mas estávamos com menos seis meses de esperança de vida”, acrescentou.
Para o ambientalista, ainda existem alterações a fazer, nomeadamente no caso dos táxis que, “apesar de representarem apenas 18% do tráfego, constituem 32% da poluição”, visto que não têm de respeitar as ZER, como os restantes veículos.
Outra alteração prende-se com a otimização dos serviços de transportes públicos, no caso das viagens ocasionais, que atualmente têm um “custo muito elevado” e também na interligação entre meios de transportes, quanto a horários e interfaces.
Francisco Ferreira defendeu ainda a penalização do transporte rodoviário individual, por exemplo “através do estacionamento e da fiscalização”.
Contudo, rejeitou a possível introdução de portagens urbanas à entrada da cidade, visto que se trata de um “sistema muito caro”. Em vez disso, sugeriu que parte das receitas das atuais portagens reverta em prol dos transportes públicos.
Esta foi a terceira de quatro sessões do debate temático sobre transportes promovido pela AML. A próxima sessão acontece a 24 de junho, sob o tema “A experiência europeia e os desafios para Lisboa”, e contará com a presença do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, e do secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Telecomunicações, Sérgio Monteiro.
Por Lusa