"O surpreendente é que a proteína que confere essa resistência ao tardígrado pode ser transferida para outras células animais", comentou à agência France Presse Takekazu Kunieda, da Universidade de Quioto, co-autor do estudo publicado esta terça-feira (20/09) na revista científica britânica Nature Communications.

Apelidado de "urso d'água", devido ao seu corpo arredondado, pelo naturalista alemão Johann Goeze, que os descreveu no século XVIII, os tardígrados vivem em todo o planeta. Medem meio milímetro de comprimento e movem-se lentamente graças às suas oito patas com garras.

As maiores qualidades do tardígrado são a sua excepcional capacidade de adaptação e a sua incrível resistência a condições extremas que matariam qualquer outro ser vivo. O animal pode passear tranquilamente minutos depois de ter ficado num congelador a temperaturas abaixo de zero ou de ter tomado um banho de água a ferver.

Além disso, tem uma longevidade invejável e resiste às pressões do Espaço.

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Em 2007, milhares de ursos d'água viajaram a bordo de uma nave espacial e foram expostos ao vazio do espaço a 270 km de altitude. Após regressarem ao planeta Terra, a maioria desses minúsculos invertebrados não apresentava qualquer alteração biológica e conseguia reproduzir-se normalmente.

Superpoderes que são um enigma

Os tardígrados sobrevivem a pressões equivalentes a 300 vezes à da atmosfera e a doses de raios ultravioletas mortais para a maioria dos organismos vivos. Uma série de "superpoderes" que são um enigma para a Ciência.

Ao sequenciar o ADN do tardígrado, Takekazu Kunieda e seus colegas identificaram nele uma proteína que o protege da radiação.  Segundo os cientistas, trata-se de uma proteína específica dos tardígrados.

Ao ampliar as análises laboratoriais, os biólogos constataram que essa proteína pode também proteger as células humanas dos raios X. "É assombroso ver que um único gene é suficiente para melhorar a tolerância às radiações nas células humanas", diz Kunieda, citado pela agência France Presse.

Quando protegido pela proteína do tardígrado, o ADN humano sofre duas vezes menos danos, segundo o estudo.

"Pensamos que a proteína pode funcionar como uma espécie de escudo capaz de proteger o ADN humano contra ataques", explica o biólogo.

De acordo com o estudo, o segredo da incrível capacidade de resistência do tardígrado pode estar no seu genoma.

Nota-se, em particular, a sua resistência à seca extrema. Privado de água, o animal é capaz de se secar completamente e sobreviver com apenas 1% da quantidade de água que contém no seu estado normal. O seu ADN divide-se em múltiplos pequenos pedaços fazendo com que o animal permaneça num estado próximo à ausência de vida, durante o qual a atividade vital se reduz a 0,01% do normal até à chegada de melhores dias.

O mais surpreendente é que, depois, no processo de reidratação, os tardígrados podem reparar o seu próprio ADN danificado e sair ilesos dessa desidratação extrema.