HealthNews (HN)- O Prémio BIAL de Medicina Clínica é considerado um dos mais importantes no domínio da saúde. Que relevância atribui a este prémio?
Prof. Sobrinho Simões (Prof. SS)- Embora não seja eu que cunhe o Prémio como de “relevância excepcional”, penso que é mesmo verdade, pois não poderia deixar de atribuir a máxima importância a este prémio que é um dos mais antigos e dos mais prestigiados galardões na área da Saúde. Felizmente, essa relevância tem-se repercutido de forma muito positiva em numerosas candidaturas de grande qualidade. Essa circunstância torna esse processo num círculo virtuoso que contribui para o crescimento da percepção de que o prémio é causa e consequência da repercussão positiva na Saúde.
HN- Em 2006 foi presidente do júri e voltou a assumir essa função desde 2018 até à data. Quais as maiores dificuldades com que o júri se depara no processo de seleção das candidaturas?
Prof. SS- A maior (e única) dificuldade que os Júris do Prémio têm deparado ao longo dos anos –ando nestas andanças desde 2006 – reside na dificuldade em conseguir fazer uma seriação de muitos trabalhos de qualidade e “culminar” com a selecção dos premiados. Esta dificuldade deve-se, por um lado, à grande qualidade de muitos dos trabalhos e, por outro, a existência de numerosas áreas de investigação clínica com especificidades distintas a traduzir a natureza abrangente deste Prémio.
HN- De acordo com a Fundação BIAL os trabalhos distinguidos devem apresentar “resultados de grande qualidade e relevância”. Como avaliam essa “qualidade e relevância”?
Prof. SS- Penso que essa avaliação passa sobretudo pela repercussão na sociedade em geral, e nas comunidades ligadas à saúde, em particular. Essa avaliação é feita em termos “objectivos”, por exemplo, através de notícias na literatura associada à saúde e em termos “subjectivos”, nomeadamente através da correspondência com profissionais e com instituições académicas e assistenciais. Para além destes aspectos, o crescimento sustentado das candidaturas é o nosso “gold standard”, passe a imodéstia.
HN- Os trabalhos distinguidos têm tido impacto na prática médica e consequentemente na saúde das pessoas?
Prof. SS- Penso(amos) que sim, mas não temos forma objectiva de avaliar esse domínio. O objectivo do Prémio, desde sempre, é promover, incentivar e dar a conhecer a influência positiva da investigação clínica, e estamos convencidos que estamos a contribuir para responder à pergunta “Para quê?”, para além das perguntas mais básicas do tipo “Como?” e “Porquê?”. Temos alguns resultados indirectos demonstrando a importância positiva e factual, por exemplo, através das referências cruzadas na literatura, mas estes resultados não conseguem avaliar a repercussão na saúde das pessoas deste ou daquele Prémio.
HN- Ao longo de várias edições os prémios acompanharam a evolução e as tendências da Medicina. Espera-se que a pandemia suscite a realização de algum trabalho candidato para o Prémio BIAL de Medicina Clínica 2022?
Prof. SS- Na tradição do que tem acontecido anteriormente, presumo que haverá candidaturas acerca de problemas suscitados tanto directamente pela pandemia, como a eles associados a co-morbilidades que originam perguntas clinicas da maior importância. Presumo que haverá também candidaturas acerca da repercussão em termos de diagnóstico precoce e de acompanhamento clínico da diminuição do recurso a estruturas assistenciais no âmbito de modificações comportamentais dos doentes secundários à pandemia, confinamento e diversas “epidemias” sociais emergentes.
HN- Espera um número significativo de candidaturas à semelhança de anos anteriores?
Prof. SS- À semelhança dos anos anteriores tenho a expectativa de continuar a testemunhar a consolidação do Prémio Bial de Medicina Clínica através de um número crescente de candidaturas de qualidade. Essa dinâmica tem sido fundamental para a transformação deste Prémio numa espécie de “Instituição da Saúde” a vários níveis.
Entrevista de Vaishaly Camões
Foto: Egídio Santos/U.Porto
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