HealthNews (HN)- O Prémio Jovem Enfermeiro-Investigador é relevante para o CIDNUR e os cuidados de saúde em Portugal em que medida?
Andreia Costa (AC)- No caso da Enfermagem, existe uma necessidade de promoção da cultura da investigação. A investigação em Enfermagem é cada vez mais e de mais alta qualidade, mas apesar do grande avanço na investigação em Enfermagem registado nos últimos anos, a disseminação e visibilidade dos resultados ainda não é a desejável, quer pela divulgação de trabalhos em revistas e outras vias de pouco impacto no meio científico, quer pela não divulgação de todo. Um prémio desta natureza é um incentivo à exposição, a tornar o seu trabalho visível. A disseminação dos resultados é parte do trabalho de investigação, se queremos contribuir efetivamente para o desenvolvimento da disciplina.
Dar visibilidade e premiar jovens enfermeiros-investigadores, recentemente doutorados, promove a cultura de investigação em Enfermagem, à medida em que as trajetórias desses jovens enfermeiros-investigadores vão inspirar outros jovens e futuros enfermeiros. Para que a investigação seja parte da vida do enfermeiro.
O CIDNUR é uma unidade de investigação com apenas dois anos de atividade e notámos, durante estes dois anos, que este tipo de iniciativa, de facto, faz movimentar as águas e desperta o interesse pela investigação em Enfermagem e pela unidade de investigação em si. Se queremos crescer e o CIDNUR estabelecer como unidade de investigação em Enfermagem de referência, temos de reconhecer o trabalho e motivar os nossos investigadores, jovens ou não, e inspirar futuras gerações.
HN- O que é que destacaria nos trabalhos apresentados nas candidaturas a concurso este ano, na menção honrosa e no vencedor?
AC- A preocupação com a qualidade da investigação e o melhor uso dos recursos na investigação é crescente e já são muitas as iniciativas no sentido de garantir o valor da investigação, propondo princípios como: prioridades de investigação bem definidas; desenhos e métodos robustos; métodos e resultados acessíveis; relatórios de pesquisa completos e utilizáveis. Estes são princípios que se aplicam aos trabalhos apresentados nos pitches sobre os artigos publicados pelos candidatos, curiosamente, um com uma abordagem quantitativa e o outro com uma abordagem qualitativa.
No caso da candidata que recebeu a menção honrosa, a enfermeira Margarida Tomás, o trabalho apresentado, “Regressar à vida quotidiana após o primeiro internamento psiquiátrico: uma investigação fenomenológica em Portugal”, é um tema atual e de inegável relevância para a sociedade, o que pode ser constatado através da recém-publicada Lei da Saúde Mental. A abordagem fenomenológica utilizada no trabalho desempenha um papel fundamental na compreensão das experiências e perspetivas das pessoas que recebem os cuidados de enfermagem.
Já o trabalho apresentado pela candidata vencedora do concurso, a enfermeira Ana Filipa Ramos, tem igualmente o mérito da temática atual e socialmente útil e ainda destaco a metodologia, o tamanho da amostra e a ampliação da utilidade dos registos feitos pelos profissionais de saúde que nos fornecem uma base de dados espetacular para o desenvolvimento de investigação científica que visam a melhoria de cuidados.
HealthNews- O Prémio Jovem Enfermeiro-Investigador tem como objetivo promover e reconhecer a produção e divulgação científica de qualidade e mérito na área científica de Enfermagem. É também essa a grande missão do CIDNUR?
AC- Sim, sem dúvida. O nosso objetivo final, a visão que temos para o Centro é vir a ser uma unidade de investigação e desenvolvimento de excelência, com reconhecido mérito nacional e internacional, geradora de valor e inovação em enfermagem e em saúde em geral. E temos trabalhado para isso. Graças ao envolvimento de todos, dirigentes da ESEL, equipa de coordenação do centro, investigadores e pessoal de apoio técnico, temos tido uma trajetória ascendente bastante animadora. Como disse anteriormente, temos apenas dois anos de atividade, mas temos um plano estratégico com metas muito claras, cujo alcance está perspetivado através de atividades previstas nos planos de ação anuais, que têm sido rigorosamente cumpridos. Estamos, de facto, comprometidos. Os nossos planos de ação e relatórios de atividades são partilhados e discutidos com uma Comissão Externa de Acompanhamento, composta por investigadores nacionais e internacionais de reconhecido mérito na área de Enfermagem. O feedback da Comissão tem sido muito positivo e as sugestões muito pertinentes em termos estratégicos. Tem sido um grande desafio, mas, ao que parece, estamos num bom caminho.
HN- Quais são os principais objetivos desta colaboração entre o CIDNUR e a Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros?
Sérgio Branco (SB)- Há que destacar que esta colaboração é de enorme relevância, tanto para a Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros, como para o CIDNUR/ESEL. Ambas as instituições ambicionam juntas poder fomentar ainda mais a investigação em Enfermagem através de atividades que possam contribuir para a evolução desta disciplina científica que escolhemos abraçar, a Enfermagem.
Quanto ao Prémio Jovem Enfermeiro-Investigador, especificamente, o objetivo passa pela promoção, reconhecimento e, naturalmente, pela divulgação científica de qualidade e do próprio mérito dos investigadores da ESEL/CIDNUR. As duas candidatas desta primeira edição são exemplo disso mesmo, com dois trabalhos de qualidade superior e de grande importância que marcam a diferença na investigação em Enfermagem no nosso país.
HealthNews- A investigação em Enfermagem é valorizada em Portugal? O contributo dos enfermeiros para a produção de conhecimento e melhoria das práticas é reconhecido e visível nas instituições de saúde?
SB- Há ainda um caminho a percorrer nessa valorização. Já é, mas a investigação em Enfermagem deve ser ainda mais valorizada. Quem se dedica a esta área depara-se com a questão da maior parte do trabalho não receber financiamento externo. Os enfermeiros acabam por dar muito da sua vida pessoal (amplamente condicionada pela profissional) para realizar investigação. Pode demorar um largo tempo até as conclusões serem apresentadas. Este trabalho tem de ser valorizado porque só traz benefícios para o futuro da Enfermagem e esta dedicação não pode passar despercebida.
Os fracos apoios ao nível das organizações de saúde associado à sobrecarga que os enfermeiros vivem diariamente são também fatores que condicionam o desenvolvimento de projetos de investigação nas instituições que estão predominantemente focadas no carácter assistencial.
É fundamental que a clínica e a academia se associem e trabalhem conjuntamente. É necessário que se criem as estratégias para que isso aconteça efetivamente. Todos ficaremos a ganhar, os enfermeiros, a Enfermagem e, sobretudo, as pessoas à nossa responsabilidade.
HealthNews- Iniciativas como o Prémio Jovem Enfermeiro-Investigador podem fazer a diferença? Qual é o papel da Ordem no caminho que deve ser percorrido?
SB- Iniciativas como esta podem fazer muita diferença. Contribuem para a divulgação da boa investigação que se faz em Portugal e, principalmente, para realçar ainda mais a importância que este trabalho dos enfermeiros pode ter na preparação de passos futuros – alguns até já no presente – que se pode e se deve dar na Enfermagem e assim estar continuamente a melhorar os cuidados, na saúde e na doença, que queremos prestar.
A Ordem está e vai continuar a estar ao lado de quem aposta também nesta importantíssima área da Enfermagem. Seja através de iniciativas, como a do Prémio Jovem Enfermeiro-Investigador que este ano começou, como através de outras formas de reconhecimento e promoção do trabalho que é desenvolvido pelos enfermeiros que tanto se dedicam à investigação.
Andreia Costa, Coordenadora do CIDNUR; Ana Filipa Nunes Ramos, vencedora; Patrícia Carla da Silva Pereira, Presidente da ESEL; Sérgio Branco, Presidente do Conselho Diretivo Regional da Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros
HN/RA
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