O presidente da LPCC, Francisco Cavaleiro Ferreira, apelou para que não sejam feitas mais doações de cabelo, explicando à Lusa que a instituição já não precisa, pelo que as pessoas “não necessitam de o cortar só com o objetivo de doar”.

Por já não serem aceites doações no país, os portugueses estão a enviar o cabelo para instituições internacionais como “Little Princess Trust”, no Reino Unido, e “Locks of Love”, nos Estados Unidos da América, que apoiam crianças que sofrem de cancro e perdem o cabelo devido aos tratamentos.

Entretanto, a Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) informou que vai disponibilizar “cerca de 50 cabeleiras a todos os doentes oncológicos que precisem”, resultado de doações de cabelo e de “um investimento de 20.000 euros”.

Impedida de doar em Portugal, Joana Correia, de 22 anos, de Guimarães, optou por doar à instituição “Little Princess Trust”, que aceita todo o tipo de cabelo, inclusive cabelos com coloração, desde que sejam tons reais, exigindo o comprimento mínimo de 17 centímetros.

28 cm de "felicidade" enviados pelo correio

“Saber que o meu cabelo, uma coisa tão simples e que muitas vezes nem damos valor, porque o temos sempre como garantido, pode ajudar outras pessoas, seja em Portugal ou em qualquer outro lado do mundo, nem me deixou a pensar mais vezes”, contou à agência Lusa esta jovem, que em fevereiro deste ano cortou e enviou por correio 28 centímetros para a instituição do Reino Unido.

As cabeleiras produzidas com o cabelo de doações não vão curar as crianças com cancro, desabafou Joana Correia, acreditando que “podem ajudar em outros níveis, garantindo que não se sentem diferentes de qualquer outra criança, e podem servir como forma de encorajamento para que nunca desistam e tenham sempre esperança que os tratamentos vão resultar”.

Adriana Vieira, de 20 anos, de São João da Madeira (Aveiro), deixou crescer o cabelo com o intuito de o doar ao IPO - Instituto Português de Oncologia de Lisboa, mas tal não se concretizou.

Em junho deste ano, esta jovem cortou 35 centímetros de cabelo. Podia-o ter enviado por correio para o IPO de Lisboa, mas preferiu aguardar para o ir entregar em mãos, de forma a ter a certeza que seria utilizado.

No compasso de espera até entregar a doação de cabelo, Adriana Vieira soube que já não estavam a precisar com a justificação dos “custos de produção de uma peruca de cabelo natural serem demasiado elevados”.

Esta jovem tenciona agora doar os 35 centímetros de cabelo para uma instituição internacional, mas ainda não decidiu qual, estando em cima da mesa a possibilidade de ir para a “Little Princess Trust”, tendo-se apercebido que “não são tão exigentes como em Portugal”.

“Sei que é impossível ter a certeza que o cabelo vai ser utilizado e isso pesa muito, porque é difícil pensar que cortei o cabelo para fazer alguém mais feliz e isso pode não acontecer”, explicou.

Depois ser diagnosticado cancro à mãe, Sandrine Marques, de 22 anos, de Alvaiázere (Leiria), decidiu deixar crescer o cabelo com a finalidade de o doar para que sejam produzidas cabeleiras destinadas a doentes oncológicos.

Ao assistir à queda e corte de cabelo da mãe, que teve que comprar uma peruca, devido aos tratamentos de radioterapia e quimioterapia a que foi submetida, a jovem ficou consciencializada para a dimensão deste problema de saúde, querendo ajudar na medida do possível.

“O cabelo cortado para mim poderia ser considerado desperdício, mas para outros poderia valer um sorriso”, contou à Lusa esta jovem.

No dia 13 de agosto, a jovem deslocou ao IPO de Lisboa para cortar o cabelo no espaço destinado a doações, porém acabou por bater com a porta no nariz quando lhe disseram que já não aceitavam, nem precisam de mais cabelo.

Apesar de não ter conseguido doar em Portugal, Sandrine Marques vai cortar o cabelo para a instituição “Locks of Love”, nos Estados Unidos da América, que crê que “fica também em boas mãos”.