A revista médica mais prestigiada dos Estados Unidos, a New England Journal of Medicine (NEJM), acaba de retirar um artigo científico sobre células estaminais suspeito de falsificação. Pelo menos 31 artigos do médico e investigador Piero Anversa terão sido publicados com resultados manipulados.

Numa declaração extraordinária, a escola de Medicina de Harvard e o hospital afiliado Brigham and Women, em Boston, acusaram o médico Piero Anversa, ex-diretor de laboratório nessas instituições, de ter "falsificado e/ou inventado dados" publicados em 31 artigos científicos. Ambas as instituições solicitaram às revistas que publicaram os artigos que os retirassem e declarassem inválidos.

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O escândalo de "reiteradas más práticas" apanha também um português, o médico João Ferreira-Martins, investigador que fez parte da equipa de Piero Anversa em Harvard e que coassinou alguns trabalhos entretanto retirados, escreve o Diário de Notícias.  Há pelo menos 55 artigos publicados pela equipa de Anversa em jornais especializados ao longo dos anos e 15 deles têm como coautor João Ferreira-Martins.

Formado na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, João Ferreira-Martins, tal como a restante equipa responsável pelo referido estudo, já não trabalham em Harvard. O investigador português está em Londres, onde, como informa na sua página doLinkedIn, é especialista em Xardiologia na London Deanery.

O pior na carreira

No mundo da pesquisa científica, uma retratação é a pior rejeição para o trabalho de um cientista. Significa que o artigo ou estudo apresenta problemas ou erros, sejam eles intencionais ou não. Neste caso, o artigo que a NEJM agora retratou foi amplamente noticiado em 2011 e deu origem a uma série de outras investigações científicas.

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Em 2011, vários meios de comunicação deram cobertura ao caso: o médico Piero Anversa anunciou ter descoberto as primeiras células estaminais capazes de promover a regeneração dos pulmões, dizendo que estas poderiam abrir caminho para o tratamento de doenças pulmonares crónicas, como o cancro ou a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).

O cientistas anunciou várias "descobertas" sobre células estaminais do coração, ganhando notoriedade e poder nesse campo, o que, por sua vez, teria permitido que ele recebesse 10 milhões de dólares em recursos públicos.

Mas há vários anos aumentaram as dúvidas sobre a veracidade do seu trabalho. Outros académicos não conseguiram replicar nem comprovar os seus resultados. Os artigos foram corrigidos e, em 2014, fizeram uma importante retratação, na revista americana American Heart Association, Circulation. Depois outros 30 artigos foram também retirados de outras publicações científicas.

"Um princípio fundamental da ciência é que todos os artigos publicados devem basear-se em práticas de pesquisa rigorosas. Quando essas práticas se desviam da norma, as consequências são graves para toda a ciência. A comunidade científica é interdependente e dependente do rigor e boa fé dos investigadores", acrescentaram em comunicado a Universidade de Harvard e o Hospital Brigham and Women.

Com AFP