Com este ensaio clínico pretende-se testar "um agente de origem natural, não tóxico, de baixo custo e com propriedades imunomoduladoras (efetivas no controlo da resposta imune e da inflamação intestinal)" que atue na Doença Inflamatória Intestinal (Colite Ulcerosa e Doença de Crohn), disse à Lusa a coordenadora do projeto, Salomé Pinho.

Esse agente, já testado anteriormente em modelo animal, revela "eficácia no controlo da inflamação intestinal e na supressão da progressão e severidade da doença" e pode ser utilizado como terapia simples ou em associação com outros fármacos.

Os indivíduos que sofrem da Doença Inflamatória Intestinal têm, de acordo com a investigadora, uma pirâmide terapêutica, na qual começam com uma terapia anti-inflamatória de base e depois vão escalando à medida que deixa de ser possível de controlar as crises, avançando para fármacos mais agressivos e com muitos efeitos secundários, sendo a cirurgia o topo da pirâmide.

A mais-valia deste novo agente é que, através do seu uso, "o doente pode descer essa escalada terapêutica e, em associação com os fármacos de base da pirâmide, controlar a atividade da doença, evitando a passagem para medicamentos mais agressivos"." O mais importante é que é possível, com recurso a este novo agente, conseguir controlar os estágios de remissão da doença, regulando assim a doença de forma mais sustentada e mais prolongada ao longo do tempo, evitando a tal escalada terapêutica", acrescentou.

Colite Ulcerosa e Doença de Crohn afetam 2,5 milhões de pessoas na Europa

Segundo um comunicado do i3S, a Colite Ulcerosa e a Doença de Crohn afetam cerca de 2,5 milhões de pessoas na Europa, tendo vindo a aumentar o em todo o mundo o número de indivíduos que sofrem da doença. "Crónica" e "altamente debilitante", atua sobretudo nos jovens, não tendo "forma de ser prevenida" por não existir uma causa conhecida.

Estas duas patologias, que intercalam períodos de atividade e fases de remissão (controlo), "passam de uma estágio a outro de forma imprevisível", sendo esta uma constante "durante toda a vida do individuo, não havendo forma de prever ou prevenir as crises", indicou Salomé Pinho.

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"A inflamação crónica ao nível do intestino acarreta ainda um risco acrescido de evolução para cancro do intestino, visto que o intestino está constantemente a ter um fator de irritação que pode potenciar a transformação maligna", explicou.

O ensaio clínico, que inicia no primeiro trimestre de 2017, vai incluir mais de 100 doentes, prevendo-se que os primeiros resultados sejam divulgados no período de um ano e meio.

Este projeto vai ser desenvolvido no Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António (promotor) em colaboração com o Hospital de São João, também no Porto, podendo ser recrutados doentes de outros hospitais do país.

Financiado pela fundação americana Crohn's & Colitis Foundation of America (CCFA), uma organização voluntária dedicada à descoberta de curas para doenças inflamatórias intestinais, pode ser posteriormente alargado a outros hospitais europeus.

Atualmente, Salomé Pinho é investigadora principal do i3S, onde lidera uma equipa cuja principal missão é usar uma abordagem multidisciplinar realizando investigação fundamental, bem como validação pré-clínica e clínica de estratégias terapêuticas racionais para a inflamação - em particular a Doença Inflamatória Intestinal - e para o cancro.