Todos os hospitais vão passar a ter equipas de médicos que serão responsáveis pela aplicação de novas regras nas transfusões, com vista a racionalizar o uso do sangue, que tem escasseado, foi hoje divulgado.

A informação foi avançada por Manuela Carvalho, especialista em imuno-hemoterapia, que coordenou na terça-feira uma reunião de nove peritos que trabalham diretamente com doentes e transfusões, durante a qual se reuniram ideias e sugestões de poupança, dependendo da área específica de cada profissional de saúde.

Um anestesista indica como se pode poupar sangue no pré-operatório, recorrendo, por exemplo, a terapêuticas convencionais como o ferro, e na consulta pré-anestésica pode avaliar quais as terapêuticas que interferem com a coagulação, explicou a médica à Lusa.

“No bloco operatório, mais de 90% das transfusões são situações mal transmedidas, em que os doentes perdem sangue que podia ser minimizado com agentes farmacológicos ou em que os cirurgiões, para ficarem mais confortáveis, pedem transfusões que não deviam ter pedido”, afirma a especialista.

A partir dos contributos deixados na reunião, vão ser reunidos consensos e apurados os aspetos mais importantes para serem transformados nas linhas orientadoras que nortearão a prática hospitalar no que respeita às transfusões.

Para aplicar estas linhas orientadoras – que terão de ser transversais a todos os hospitais – estão a ser constituídas as comissões transfusionais, equipas com especialistas de todas as áreas, porque os cenários são diferentes em todas as áreas, disse Manuela Carvalho.

“Estas comissões têm de conhecer todas as alternativas às transfusões, divulgá-las a todos os clínicos dos hospitais e garantir que as guidelines são cumpridas, para poupar sangue e poupar também os doentes, já que este é um processo que não é isento de riscos”, afirmou.

A expetativa da especialista é que os consensos estejam reunidos, resumidos e convertidos em linhas orientadoras até ao final do ano.

Quanto à sua aplicação prática em todos os hospitais, através da respetiva comissão transfusional (equipa de médicos responsáveis pela aplicação das regras), Manuela Carvalho assinala que isso depende de hospital para hospital.

“A existência destas comissões é muito importante, mas cada hospital tem de fazer o seu trabalho. Quanto mais depressa o fizerem, mais racionalmente são transfundidos os doentes”, considerou.

António Robalo Nunes, imuno-hematologia, é responsável na equipa pela produção da norma sobre transfusões e poupança de sangue.

Em declarações à Lusa em abril deste ano, o responsável já tinha alertado para a existência de muitas situações em que as terapêuticas com fármacos podem ser usadas como alternativa ou em complemento com as transfusões, poupando o recurso ao sangue.

“Estamos a viver um momento de austeridade transfusional e, por isso, tem de haver tolerância zero em relação à transfusão inadequada. Em medicina há um princípio muito simples, que diz que uma transfusão que não está indicada está contra indicada”, considerou.

O médico do Hospital Pulido Valente lembra que cada vez que há um doente a receber transfusão de forma inadequada, pode haver um doente ao lado a necessitar de sangue e que esteja a ser impedido de o receber.

31 de outubro de 2012

@Lusa