Há uma pressão social para a beleza ser directamente proporcional à magreza de cada um, tentando transmitir-nos a ideia de que uma diminuição abrupta do índice de massa corporal é proporcional ao intumescimento dos corpos cavernosos e, por consequência, a uma vigorosa erecção. Já o meu avô me dizia que, com o tempo, a vida nos ensina que tudo isso é um engano porque o conceito de formosura muda e, muitas vezes, perde-se - e a erecção também.

A sociedade, conscientemente, engana-nos e nós, astutos, permitimos. Fazem-nos crer que a pessoa magérrima é mais saudável do que a obesa, quando podem ser patologias diferentes. Impõem-nos que todo o conceito de beleza é uma regra, da mesma forma que nos forçam a acreditar que ambas as pessoas, com mais ou menos tecido adiposo, são culpadas por assim serem, ignorando toda uma etiologia multifactorial.

Tomamos como definição que "estar para as curvas" é diferente de "estar com curvas" e isto leva-nos a assistir a um sem número de dietas. Começamos, primeiramente, com a "dieta do estúpido", que consiste em fazer todo o tipo de dietas prescritas pelo Dr. Google, sem consultar um nutricionista especialista em - pasmem-se - fazer dietas. Julgamos cara uma consulta que nos permite melhorar a nossa saúde, mas não nos importamos de pagar todos os tratamentos, consultas e medicação para a restabelecer, após regatearmos a prevenção.

Experimentam a "dieta 5 passos" ou a "dieta 10 passos", se a condição for não dar passos nenhuns e trabalhar para manter o formato dos glúteos no sofá, que a vida está cara para não se dar uso ao que se compra. O objectivo principal de quem faz dieta é não ter privação porque, para isso, já basta a privação do sono ao não ver resultados práticos das dietas que não cumprem.

Recorre-se, também, às dietas com fruta, uma delas chamada "dieta da banana", em que a base da dieta é esse mesmo fruto. Toda a gente conhece as propriedades antidiarreicas da banana e, se não conhecem, podem, em último caso, colocar uma no esfíncter mais distal da boca e confirmar se a diarreia não pára. Inclusive, sempre pensei que esta dieta se baseava nesse princípio, porque não imagino nada que possa diminuir tão rápido o apetite como ter uma banana à saída do purgatório. Digamos que é uma dieta para apreciadores da modalidade, de sobremesa ou de ambas - aquilo a que na gíria se chama "banana split".

Há quem opte por dietas à base de diuréticos ou laxantes, presumo que com a velha máxima de "se entraste, vais ter que sair". Reparem que, o que perdem em peso, ganham em hemorróidas, pelas horas passadas numa qualquer poltrona de loiça. É uma dieta benéfica para pessoas a que costumamos perder o paradeiro no dia-a-dia mas que, em caso de dúvida, estão sempre na casa de banho mais próxima.

Ninguém me tira da ideia de que a forma mais feliz de fazer dieta é ser-se pai. Até lá, é-se aficionado por boa comida, bom peixe, boa fruta. Há o culto da alimentação e faz-se jus à importância da dieta mediterrânica e às horas passadas, leia-se "bem passadas", à mesa. Quando nasce um filho, tudo passa para segundo plano e, numa tentativa desenfreada de deixar o melhor para o rebento, passa-se a venerar cabeças de peixe, fruta tocada e  refeições anteriores. Fica-se enfartado muito mais rápido, com menor quantidade e sempre com um sorriso. "Não me apetece mais, estou bem" - dizem, enquanto rematam com um "agora só como sobremesa" - que na nossa cabeça já imaginamos ser um pêssego mais pisado do que um adepto da selecção francesa, após os festejos do mundial da Rússia.

Um dos truques mais bem guardados de qualquer praticante de um apertado regime alimentar é o uso do diminutivo. Se incorrerem no erro crasso de ingerirem um menu de uma conhecida marca de hambúrgueres - da qual, obviamente, não direi que começa com um "M" e termina em "acdonald's" -, são os primeiros a admitir que comeram um "hamburguerzito". O diminutivo rebaixa a refeição, envergonha-a e automaticamente faz com que a pessoa se sinta melhor. Se um menu tiver mil calorias, é óbvio que o diminutivo lhe tira logo metade, sem sequer precisarmos de nos mexer. O mesmo acontece com o "cozidinho à portuguesa" que, de imediato, tira o peso da refeição e ainda dá fome no final. Já o inverso acontece com o exercício praticado após uma calórica refeição. "Ontem comi bem, mas dei logo uma corridinha" - aqui, o diminutivo joga a nosso favor. Parece que corremos uma maratona mas estamos a ser humildes porque, em boa verdade, era uma corrida necessária que julgamos apagar os erros alimentares cometidos. O perfeito domínio do diminutivo deveria ser elevado ao patamar da arte, só acessível a quem consegue prevaricar de forma profissional.

O problema de quem quer emagrecer é a sensação de domínio do próprio corpo num problema que não dá dor. Decidem quando começar a dieta, muitas vezes quando há menos festas ou na estação do ano mais fria, com o intuito de o esforço ser menor. Adiam "porque podem", dizem, com o mesmo pensamento autoritário que resultou durante anos com o Ricardo Salgado e, convenhamos, tem-se safado à grande.  Auguram um esforço limitado em que não precisem de deixar de comer ou cometer erros alimentares - é certo que um tal de Jesus fez a vida assim, com milagres, e eternizou-se. Quem tenta emagrecer não se quer eternizar, apenas viver mais e melhor, por isso acham que comparado com Jesus, nem pedem muito.

No meio de vastas opções para perder peso, a maior parte delas sem sucesso, acabam numa dieta que inventei e nomeei de "dieta do guardanapo", que é a que faço actualmente. Consiste em poder comer tudo... menos o guardanapo. E, acreditem, tem o mesmo resultado das anteriores: nenhum.

O grande problema aqui é a pressa com que se quer emagrecer. Esquecem-se que demoram anos a engordar, mas querem emagrecer em semanas. Colocam metas difíceis e pautam as semanas em quilos, lutando por perder 5 em duas semanas, ou 8 num mês. O que não me espanta, porque o que não falta para aí é quem perca os três em segundos. Emagrecer muito em pouco tempo leva-me sempre a desconfiar de alguém que teve uma diabetes mal controlada e foi forçado a amputar uma perna. Tudo o resto é capaz de envolver tempo, vontade e esforço.

Já o meu avô me dizia que a pressa é inimiga da perfeição, por isso é que agora leva mais tempo a fazer tudo, não tem nada a ver com a idade. Reafirma, e bem, que o conceito de formosura muda e eu tenho-o como um especialista na matéria. Porque, apesar da idade lhe ter levado a vontade, não lhe levou a ideia. Pode ter deixado de tourear mas, certamente, não deixou de ser um grande apreciador da arte.

Uma crónica do humorista e médico Carlos Vidal.