Depois de mais de dois anos a lutar contra o risco de uma variante da COVID-19, a Dinamarca voltou a autorizar a criação de animais de peles a partir de 1 de janeiro. Mas Poul Erik não planeia retomar o ofício. "A fazenda pode ser usada para outras coisas", diz à AFP o sexagenário, exibindo a sua fazenda de 100 hectares.
A maioria das 1.000 fazendas de visons que existiam na Dinamarca fez a mesma escolha. Poul Erik garante que não está triste. Em 1986, ele comprou a fazenda do seu pai, onde as vacas leiteiras reinavam supremas.
Começou a criar visons com 50 fêmeas e expandiu o negócio com a ajuda do seu filho, que se juntou a ele em 2006.
Planeava passar a fazenda para o seu filho, mas em novembro de 2020 a Dinamarca impôs — sem fundamento legal suficiente na época — o abate sistemático desses animais.
Milhões de visons foram abatidos na sequência da pandemia
Uma mutação problemática do coronavírus tinha sido detetada em certos animais, que poderiam contrair a COVID-19 e recontaminar os humanos.
Sem um caso positivo entre os seus mamíferos, todas as peles de Vestergaard foram vendidas.
Subssídio
Após a angústia de ver o seu negócio desaparecer, o dinamarquês viu-se sem emprego.
O seu filho Martin voltou-se para o ofício de eletricista, enquanto desenvolvia a sua paixão pela cerveja, preparando-a na sua cozinha com um amigo de infância, Thomas. "Eles tinham esse hobby e ficou evidente que tinham que passar para o nível superior", explica o ex-criador. "Tivemos a oportunidade de pedir dinheiro para abrir um novo negócio onde havia uma fazenda de visons e conseguimos uma certa quantia", detalha o filho.
Ambos devem receber um bónus de um milhão de coroas (142.500) pela reconversão.
Das 200 solicitações, cerca de 60 empresários receberam subsídios ao abrigo de um programa estabelecido por uma região da Jutlândia, no oeste da Dinamarca, onde se concentrava a maior parte dos criadouros.
Alguns tornaram-se padeiros, outros passaram a cultivar morangos, ou criaram fazendas educativas. "É um sistema muito popular", enfatiza Bent Mikkelsen, gerente de planeamento da região de Midtjylland.
Hoje, estima ele, todos os ex-criadores que não se aposentaram estão a voltar ao trabalho.
Com Thomas Jeppesen como sócio, Poul Erik e Martin compraram os seus equipamentos para uma microcervejaria com nove barris de mogno.
Para lidar com os custos, com o recente aumento dos preços da eletricidade, pretendem instalar painéis solares. "Não acho que o governo permitirá que a criação de visons se desenvolva novamente", diz Martin.
Mas um punhado de entusiastas quer retomar a prática.
São poucos os países exportadores mundiais desse setor, tão criticado pelos defensores dos animais.
Todos estão na Jutlândia, e um dos criadores já comprou cerca de 2.000 visons. Mas a retoma será lenta e difícil até que haja animais de qualidade, segundo os profissionais.
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