No final de fevereiro, três diretores de serviço do hospital de Faro pediram a demissão, alegando falta de resposta para a sobrelotação de doentes e pressões para atribuírem altas precoces, face ao aumento da procura e às dificuldades no internamento.

Em comunicado enviado à agência Lusa, o deputado Cristóvão Norte considera que, "perante a gravidade da alegação", o Governo deveria ter "ordenado um inquérito" uma vez que, a confirmarem-se as alegadas pressões para serem concedidas altas precoces, trata-se de uma "imposição para que os doentes sejam pior tratados".

Por outro lado, o parlamentar eleito quer também que seja ouvida a ex-diretora Clínica do Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul (CMRSUL), agora exonerada e que exercia funções desde 2010.

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Segundo Cristóvão Norte, essa exoneração está relacionada com a integração, há um ano, daquele centro, no Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA).

De acordo com o deputado, com essa medida, a autonomia da instituição ficou "prejudicada", tendo as decisões de natureza assistencial e não assistencial sido retiradas aos responsáveis do CMRSUL e, no caso das decisões assistenciais, atribuídas, agora, a um diretor de departamento do CHUA, que acumulará funções no centro de reabilitação.

Hospital de Faro não consegue dar resposta

“Este caso é da maior gravidade e inscreve-se numa lógica que tem subordinado o CMRSUL à incapacidade de resposta do Hospital de Faro, à sua sobrelotação, o que conduziu a que um piso esteja ocupado por doentes da Urgência de Faro", criticou, sublinhando que o centro, localizado em São Brás de Alportel, "não pode ser um depósito de casos a que o Hospital de Faro não consegue dar resposta”.

Segundo Cristóvão Norte, "dois terços das 54 camas disponíveis [do CMRSUL] estão encerradas, o que conduz ao crescimento das listas de espera", que, refere, "mais do que duplicaram no espaço de um ano, tendo agora mais de 100 utentes referenciados".

Por outro lado, notou, o CMRSUL "tem falta de 26 enfermeiros", não havendo autorização para abertura de concurso "sequer para os 11 que o Governo anunciou", além do facto de que não têm sido tomadas medidas "no sentido de contratar médicos, terapeutas e administrativos, num total de 40".

Relativamente à Urgência do CHUA, Cristóvão Norte referiu que em 2015 registava-se uma média de cinco internados por dia, em 2016 sete, e em 2017 o número ascendeu a 25 pessoas, estimando-se que em 2018 "se supere os 40", razão pela qual, observou, "já se veem doentes internados em macas nos corredores", o que não acontecia desde 2012.

O Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul, semelhante ao centro que existe em Alcoitão (Cascais) abriu há onze anos, servindo uma população de aproximadamente 650 mil habitantes, dos distritos de Beja e de Faro.

A qualidade dos serviços tem sido afetada pela falta de pessoal, o que obrigou ao encerramento de metade das camas de internamento, situação que autarcas e outros responsáveis têm atribuído ao facto de a unidade ter ficado, desde 2013, sob a gestão da ARS/Algarve.

Em março passado, a ARS/Algarve anunciou que o centro iria passar a ser um dos quatro polos do recém-criado Centro Hospitalar e Universitário do Algarve, a par dos hospitais de Faro, Portimão/Lagos e de um polo de investigação ligado à Universidade do Algarve.