Trabalhar em contextos em que os profissionais estejam sujeitos a uma grande sobrecarga de trabalho emocional, quer pelo facto de cuidarem e tratarem de doentes em situações clínicas graves e em morte iminente, quer pelo facto de terem de tomar decisões para suspender ou limitar tratamentos, pode conduzir ao burnout.
O burnout em profissionais de saúde afeta o ambiente da prestação de cuidados e interfere com o objetivo da prestação de cuidados com qualidade, conduzindo a um processo de exaustão emocional, despersonalização, baixa realização profissional, problemas de saúde e absentismo. Consideramos por isso, que trabalhar em UCI é só por si um risco para os profissionais.
Por outro lado, os baixos níveis de burnout encontrados no seu estudo em Unidades de Cuidados Paliativos em Portugal, apresenta como fatores para estes resultados, as estratégias adotadas pelos profissionais para o prevenir.
Os fatores protetores de burnout que estas equipas apresentam, também contribuem para os baixos níveis. Dentro destes fatores encontram-se: as características organizacionais das equipas; as características dos profissionais, a pessoa certa no trabalho certo; o trabalho em equipa interdisciplinar; o bom ambiente de trabalho e o espírito de equipa; a gestão de conflitos; a ética de cuidar - na relação com doentes, famílias, entre os profissionais da equipa e por parte do superior hierárquico; o impacto do trabalho sobre a vida de outras pessoas; o processo de tomada de decisão ética; a concretização dos (últimos) desejos; e proporcionar uma morte tranquila.
Neste sentido, foi desenvolvido um programa de intervenção para prevenção do burnout em UCI, a partir dos fatores protetores de burnout encontrados em UCP.
O programa de intervenção para prevenção do burnout pretende ser para os profissionais de saúde e para as instituições de saúde, um instrumento útil e prático, que desenvolva as competências necessárias para gerir o stress e desta forma prevenir o burnout.
Os programas de prevenção do burnout são socialmente muito importantes, pois têm um impacto positivo, no individuo e na organização. Os programas de prevenção do burnout promovem a saúde e a segurança dos profissionais e consequentemente, diminuem os custos com a saúde e aumentam a produtividade.
Instituições cuja missão é cuidar de seres humanos vulneráveis, não devem nunca esquecer a vulnerabilidade dos seus colaboradores. Neste sentido, introduzir a reflexão ética na gestão de recursos humanos das organizações de saúde e cuidar de quem cuida, é antes de mais um imperativo humano. Conhecer os contextos de prestação de cuidados e as condições ergonómicas em que os profissionais de saúde trabalham, é da responsabilidade da organização.
Consideramos que a responsabilidade ética das organizações de saúde em relação ao bem-estar dos seus colaboradores, é uma questão de interesse público.
Por Ana Paula Nunes, Professora adjunta na Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa
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