O cancro do rim representa 3% de todos os cancros e engloba um conjunto de subtipos de tumores malignos, dos quais o mais frequente é o Carcinoma de células renais, representando 90% de todos os tumores malignos do rim, com maior incidência entre a 6ª e a 7ª década de vida.

A obesidade, hipertensão arterial, tabagismo e história de familiar em 1º grau com cancro do rim são fatores de risco para o desenvolvimento da doença.

Diagnóstico precoce = Cancro localizado

Atualmente, na grande maioria dos casos, é diagnosticado numa fase precoce, assintomática, em que a doença está localizada no rim e é possível, com segurança, oferecer aos doentes tratamento com intenção curativa, habitualmente cirúrgico.

Este facto deve-se, em parte, ao acesso generalizado a exames de imagem, como por exemplo a ecografia renal, que marcou um avanço notável na antecipação do diagnóstico.

Os exames de imagem como a Tomografia axial computorizada ou a Ressonância magnética nuclear, são hoje fundamentais para caracterizar estes tumores, auxiliando o Urologista no planeamento do tratamento cirúrgico. É crescente o uso da biópsia do tumor renal para confirmar o diagnóstico.

Também a cirurgia evoluiu, sendo hoje possível, quando o tamanho e a localização do tumor permitem, poupar com segurança parte do rim, retirando apenas o cancro, aquilo a que se chama de nefrectomia parcial. A forma de operar evoluiu radicalmente nos últimos 30 anos, tendencialmente com recurso a técnicas cirúrgicas minimamente invasivas, como a laparoscopia e a robótica. Esta evolução traduziu-se na optimização do tempo de recuperação pós-operatória e em menos complicações peri-operatórias para os doentes.

Nos países ocidentais, a mortalidade por este tipo de cancro tem vindo a baixar progressivamente, em parte devido ao diagnóstico precoce e tratamento cirúrgico eficaz numa fase em que a doença está localizada ao rim.

Diagnóstico tardio = Cancro localmente avançado ou metastizado

A apresentação clínica tardia do cancro do rim, atualmente rara, manifesta-se classicamente pela existência de sintomas como hematúria (sangue na urina), dor no flanco do abdómen e existência de uma massa abdominal palpável, devendo alertar de imediato o doente a procurar o seu Urologista.

Quando o Cancro do rim está disseminado para outros órgãos (metastizado) continua a existir tratamento. Embora resistente à quimioterapia sistémica citotóxica, o tratamento consiste em fármacos que promovem a imunidade levando à morte celular programada das células tumorais (Imunoterapia) e outros que impedem a formação de vasos sanguíneos para o cancro se desenvolver (anti-angiogénicos), com efeitos laterais aceitáveis para os doentes.

Aliás, tem sido notável o progresso terapêutico a que se tem assistido nos últimos anos, o que tem permitido aumentar a sobrevivência dos doentes, controlando melhor a doença. A possibilidade de remover o rim ainda existe, devendo, no entanto, ser ponderada em conjunto com as outras terapêuticas, no contexto de reunião oncológica multidisciplinar urológica.

Num tempo de Pandemia por COVID-19, as outras doenças não deixaram de existir, daí se justifique este alerta para o Cancro do rim, doença que apesar de maligna, se diagnosticada precocemente, tem tratamento potencialmente curativo.

Um artigo do médico Ricardo Dias Cruz, Urologista no Hospital CUF Descobertas.