Porque dói o coração? Quais os sintomas a valorizar?
A causa mais frequente para a dor cardíaca é a doença arterial coronária, ou seja, uma obstrução nos vasos sanguíneos do coração que reduzem o fluxo sanguíneo e oxigénio para o músculo cardíaco, causando doença isquémica cardíaca. Isso pode causar dor conhecida como angina de peito ou angor. A angina é caracterizada, habitualmente, por uma dor no centro do peito descrita como pressão ou aperto, que pode irradiar para os braços, ombros, mandíbula ou costas. Pode ser desencadeada durante um esforço como caminhar mais depressa, subir rampas ou escadas e normalmente alivia com o repouso.
Se pelo contrário a dor surgir subitamente, sem alívio com o repouso, podemos estar perante um enfarte agudo do miocárdio, conhecido também como ataque cardíaco, uma verdadeira emergência médica que requer atenção e tratamento imediato. Existem outros sintomas acompanhantes que podem surgir com a dor torácica de causa cardíaca como suores, má disposição e vómitos ou falta de ar.
É importante salientar que em algumas pessoas, nomeadamente nos idosos ou diabéticos, as manifestações clínicas podem ser diferentes e atípicas, onde a dor no peito pode não existir, sendo a falta de ar decorrente do esforço o sintoma mais comum.
Quando procurar o médico? Como é feito o diagnóstico?
Se tiver uma dor no peito de características semelhantes às descritas, deve procurar um cardiologista. Isso pode significar que você pode ter um enfarte agudo do miocárdio a qualquer momento.
“Então, se eu tiver uma dor no peito tenho uma doença muito grave?” Calma! Existem muitas causas para dor torácica, algumas de origem não cardíaca como doenças do esófago, doenças pulmonares ou osteoarticulares. Não há como diagnosticar com precisão a dor no peito com base apenas nos sintomas, por isso é muito provável que o seu médico lhe peça exames que o ajudem a fazer o diagnóstico diferencial.
Os exames que podem ajudar a diagnosticar a causa de dor cardíaca incluem eletrocardiograma, testes de sobrecarga com o esforço ou através da utilização de fármacos ou a angio-TAC coronária (exame de imagem que permite avaliar as artérias do coração). Estes exames são não invasivos, de risco muito baixo quando executados adequadamente sob supervisão médica. Quando esta avaliação sugere doença coronária, pode estar indicada a realização de cateterismo cardíaco, indispensável para o diagnóstico definitivo. Este é um exame invasivo que utiliza cateteres que permitem a visualização direta das artérias coronárias através da utilização de contraste, localizando as lesões obstrutivas.
Se a apresentação da dor torácica é súbita e não alivia com o repouso deve procurar ajuda médica de imediato num serviço de urgência ou através do contacto de emergência médica.
O electrocardiograma e análises ao sangue são exames simples e não invasivos que indicam se há sofrimento cardíaco e permitem o diagnóstico de enfarte agudo do miocárdio. Nesse caso será proposto internamento e realização de cateterismo urgente ou emergente conforme critérios clínicos bem definidos.
Existe tratamento para a dor cardíaca?
Apesar da potencial gravidade da doença isquémica cardíaca, quando tratada atempadamente podem ser evitados danos permanentes no coração. Durante o cateterismo e após a identificação das lesões que causam obstrução à circulação cardíaca, na maioria das vezes é possível tratá-las através da colocação de stents (peças metálicas que permitem a desobstrução das artérias afectadas). Raramente, pode não ser possível abordar as lesões por este método e nesses casos pode ser proposto para cirurgia cardíaca (“bypass”) ou tratamento farmacológico com recurso a medicamentos.
Em qualquer dos casos, o tratamento médico é complementar e indispensável, não só para manter a permeabilidade dos stents ou “bypasses”, como também para controlar os factores de risco, evitar o aparecimento de novas lesões e ajudar à cicatrização favorável do músculo cardíaco. O cumprimento escrupuloso da prescrição médica é fundamental para o sucesso do tratamento e o seu incumprimento pode ter consequências muito graves como enfarte do miocárdio, insuficiência cardíaca ou mesmo a morte.
Devo esperar que a pandemia da COVID-19 esteja ultrapassada para ir ao médico?
Uma das preocupações actuais dos cardiologistas é a constatação de que o medo que se vive da COVID—19, atrasa a procura de cuidados médicos atempadamente, com consequências necessariamente graves. É importante salientar que o risco de contágio é muito baixo quando se recorre às instituições de saúde, sobretudo com o tempo de preparação que tivemos e a elaboração de circuitos independentes para casos não suspeitos, quando comparado com as potenciais consequências da doença cardíaca não tratada. O tratamento da doença isquémica do coração não pode esperar.
Um artigo da médica Filipa Ferreira, cardiologista no Hospital CUF Infante Santo.
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