Hoje, celebra-se o Dia Nacional do Enfermeiro de Reabilitação, uma data que assinala a importância deste profissional no sistema de saúde português. A história da Enfermagem de Reabilitação, em Portugal, remonta a 18 de outubro de 1965, quando a Enfermeira Sales Luís introduziu esta especialidade no país. A inspiração para esse campo de intervenção veio dos Estados Unidos da América, onde a prática já estava bem consolidada. Desde então, esta área de especialidade tem crescido e evoluído em Portugal, com os enfermeiros de reabilitação a desempenharem um papel fundamental na promoção da autonomia e na melhoria da qualidade de vida de milhares de cidadãos, ajudando-os a alcançar uma vida mais independente e ativa.

Importa referir que, o contributo dos enfermeiros de reabilitação vai muito além do que frequentemente é reconhecido. Imbuídos de uma prática altamente especializada, proporcionam cuidados ao longo de todo o ciclo de vida, em todos os contextos da prática de cuidados, que vão desde a recuperação da autonomia até à preservação da independência nas atividades quotidianas. Esta especialidade que exige uma abordagem holística, empática e científica, focada não apenas na cura, coloca a pessoa no centro dos cuidados. A sua intervenção engloba também a vertente emocional, cognitiva e psicossocial, preparando a pessoa para enfrentar os desafios da sua condição e para alcançar o máximo de independência possível, possibilitando a reintegração plena no seu ambiente familiar, social e profissional.

Os Enfermeiros de Reabilitação atuam nos mais diversos contextos, como hospitais, centros de reabilitação, cuidados de saúde primários e até no domicílio, sempre com o objetivo de maximizar a independência funcional dos seus utentes. Desenvolvem a atividade profissional em colaboração com outros profissionais de saúde, coordenando planos de cuidados que visam a recuperação, a prevenção de complicações e o regresso à vida ativa.

Para muitos, o processo de reabilitação não se limita à promoção da recuperação física, mas também a enfrentar o isolamento social e a perda de identidade. Ao promover a autonomia e o empoderamento, os enfermeiros de reabilitação desempenham um papel decisivo na recuperação da autoestima dos seus utentes, preparando-os e incentivando-os a enfrentar os desafios da sua condição para alcançar o máximo de independência possível e, desta forma, a reintegrarem-se na sociedade.

No entanto, Portugal enfrenta um sério desafio: a escassez de enfermeiros, com apenas 7,9 enfermeiros por mil habitantes, abaixo da média europeia. Este défice afeta a qualidade dos cuidados de enfermagem de reabilitação, especialmente em regiões mais remotas. Atualmente, em Portugal, existem cerca de 5.300 Enfermeiros de Reabilitação, número manifestamente insuficiente para suprir as reais necessidades da população. A procura por cuidados de enfermagem de reabilitação continua a crescer, impulsionada pelo envelhecimento da população e pelo aumento da incidência de doenças crónicas que afetam, inevitavelmente, a funcionalidade ao longo do tempo. Este desequilíbrio entre a oferta e a procura resulta, muitas vezes, em sobrecargas de trabalho para os enfermeiros especialistas existentes, o que pode, de certo modo, comprometer a qualidade dos cuidados prestados. Para mitigar este problema, é essencial que esta especialidade seja cada vez mais valorizada, tanto pela comunidade como pelas instituições de saúde. É crucial a contratação de mais profissionais, tanto para os hospitais como para os cuidados de saúde primários, de forma a garantir uma cobertura adequada e equitativa em todo o território nacional, assim como, atrair mais profissionais para a especialidade, oferecendo melhores condições de trabalho, oportunidades de progressão na carreira e valorização salarial.

Apesar da sua importância inegável, a reabilitação nem sempre recebe o reconhecimento que merece. Considerando os princípios de acesso e equidade em saúde, pilares fundamentais do Serviço Nacional de Saúde, e a necessidade de garantir cuidados a todos os cidadãos, é inaceitável que, em pleno século XXI, muitos ainda não tenham acesso a cuidados de reabilitação, especialmente em áreas rurais. Esta realidade agrava as desigualdades em saúde e perpetua ciclos de dependência e exclusão social.

São necessárias campanhas de sensibilização e consciencialização sobre a importância da reabilitação e os direitos das pessoas que necessitam desses cuidados para promover uma mudança na agenda política, garantindo que as necessidades e os direitos dos indivíduos em reabilitação sejam reconhecidos e atendidos. A educação e a informação são essenciais para reduzir o estigma, aumentar a compreensão sobre os cuidados de enfermagem de reabilitação e promover um sistema de saúde mais inclusivo e acessível.

Deste modo, a reabilitação tem de ser encarada como uma prioridade de saúde pública, e não pode ser entendida como um serviço complementar ou um privilégio. É importante referir que as recomendações da Organização Mundial de Saúde, em 2023, reforçam a necessidade de uma estratégia global para a melhoria dos cuidados de reabilitação, sublinhando a importância de fortalecer os serviços de reabilitação, garantindo acesso adequado, qualidade e continuidade desses cuidados, como parte essencial da promoção da saúde e do bem-estar.

Com a recente reforma do Serviço Nacional de Saúde, surgem novos desafios e oportunidades aos quais os enfermeiros de reabilitação irão dar a melhor resposta, como sempre fizeram, atuando não apenas como um facilitador da recuperação da independência funcional mas também como um agente de mudança, capaz de devolver esperança e dignidade aos cidadãos.

Neste dia 18 de outubro, celebremos e reconheçamos o impacto profundo que o trabalho destes profissionais tem na nossa sociedade. Cada recuperação bem-sucedida é uma vitória não só para o doente, mas para todos nós, que dependemos de um sistema de saúde eficaz, humanizado e que valoriza a reabilitação como um direito inalienável e não como uma opção.

Hoje, mais do que nunca, devemos valorizar e agradecer o trabalho incansável destes profissionais. Parabéns aos Enfermeiros de Reabilitação!

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