A novidade é que a medula óssea que esse paciente recebeu não possui uma mutação já detetada por cientistas, que consegue bloquear o vírus da Sida.

O seu caso foi apresentado esta quinta-feira (20) em Brisbane, antes da Conferência da Sociedade Internacional da Sida que começa no domingo na Austrália.

Antes dele, outras cinco pessoas já foram consideradas como provavelmente curadas do vírus da Sida, após ter recebido um transplante de medula óssea.

Todos os pacientes curados tinham uma situação muito particular em comum: sofriam de cancro do sangue e beneficiaram de um transplante de células-estaminais que renovaram profundamente o seu sistema imunitário.

Porém, em todos esses casos, os doadores apresentavam uma rara mutação, de um gene conhecido como CCR5 delta 32, que previne a entrada do VIH nas células.

Com o "paciente de Genebra", a situação é diferente: em 2018, para tratar uma forma de leucemia especialmente agressiva, fez um transplante de células-estaminais. Porém, desta vez, o transplante veio de um doador que não portava a famosa mutação CCR5.

Sem rasto do vírus

Vinte meses depois de ter interrompido o tratamento antirretroviral, o vírus continua indetetável no seu corpo.

O paciente é acompanhado pelos Hospitais Universitários de Genebra, em colaboração com o Instituto Pasteur, o Instituto Cochin e o consórcio internacional IciStem.

O seu tratamento antirretroviral foi reduzido lentamente e suspenso em definitivo em novembro de 2021.

As equipas científicas não descartam que o vírus ainda persista, mas consideram que se trata de uma nova remissão da infeção pelo VIH.

Dois casos anteriores, conhecidos como os "pacientes de Boston", também receberam células estaminais normais durante os seus transplantes. Porém, em ambos os casos, o VIH retornou nestes pacientes alguns meses depois de pararem de tomar antirretrovirais.

Asier Saez-Cirion, cientista espanhol do Instituto Pasteur da França, que apresentou o caso do paciente de Genebra em Brisbane, disse à AFP que se não há sinais do vírus depois de 12 meses "a probabilidade de que seja indetetável no futuro aumenta significativamente".

Há algumas possíveis explicações porque o paciente de Genebra permanece livre do VOH, disse Saez-Cirion.  "Neste caso específico, talvez o transplante eliminou todas as células infetadas sem necessidade da famosa mutação", disse. "Ou talvez o seu tratamento imunossupressor, solicitado depois do transplante, teve um papel", acrescentou.

Sharon Lewin, presidente da Sociedade Internacional de Sida, que celebrou a conferência científica sobre o VIH em Brisbane, disse que o caso era "promissor".

"Porém aprendemos com os pacientes de Boston que apenas uma" partícula do vírus pode provocar um rebote do VIH, advertiu.

"Este indivíduo em particular deverá ser monitorado rigorosamente durante os próximos meses e anos", disse a especialista.

Apesar destes casos de remissão a longo prazo gerarem esperanças de uma cura para o VIH, o agressivo e arriscado procedimento de transplante de médula óssea não é uma opção para as milhões de pessoas que vivem com o vírus em todo o mundo.

No entanto, este paciente traz esperanças de que os casos de remissão possam indicar novas vias de pesquisa, como o papel potencial dos tratamentos imunossupressores.

Saez-Cirion disse que o caso também motivou os cientistas a continuarem a estudar as células imunes inatas, que atuam na linha de frente da defesa contra vários agentes patogénicos. Já o paciente de Genebra disse que agora "pensa no futuro".