Levar o ser humano a “dar aos problemas a sua verdadeira dimensão” e aproveitar o que de bom a vida lhe oferece, em suma, aprender a ser feliz, é a base de uma disciplina que nasceu há meio século entre a classe médica e alastrou à área social.

“Um dos grandes bens da sofrologia é dar aos problemas a sua verdadeira dimensão, não fazer duma mosca um elefante, de modo a podermos aproveitar melhor o que temos de bom na vida. A sofrologia ajuda a ser feliz”. A definição, pronunciada com forte sotaque francês, é de Frida Ergas, a médica de Marselha que descobriu na década de 1970 – já vivia em Portugal – este método criado em Espanha pelo neuropsiquiatra colombiano Alfredo Caycedo.

Frida Ergas, atualmente com 95 anos, criou em Lisboa a primeira escola portuguesa de sofrologia e foi a grande difusora da vertente clínica desta prática, que tem no treino da respiração e no recurso à alteração dos estados da consciência um precioso auxiliar na cura e na capacidade de viver a vida em harmonia.

A palavra sofrologia tem na sua origem três termos gregos que significam harmonia (sos), consciência (phren) e conhecimento (logos) e surge no oposto da esquizofrenia, que representa a consciência humana em sofrimento, resumiu para a agência Lusa a cofundadora da Escola de Sofrologia Caycediana de Santarém, Ana Viegas Cruz.

Foi o contacto próximo com o sofrimento mental que levou Alfredo Caycedo a procurar alternativas a terapias que considerava agressivas (como os eletrochoques ou os comas insulínicos) e sem os problemas de recursos como a hipnose.

“Os professores dele aconselharam-lhe a fenomenologia existencial, uma filosofia ocidental, mas também que viajasse até ao Oriente para descobrir o que era isso da consciência humana em harmonia”, referiu Ana Viegas Cruz.

Da viagem de dois anos pela Índia, Japão e Tibete, Alfredo Caycedo trouxe para a medicina psiquiátrica ocidental a vivência da consciência em harmonia que aprendeu do ioga e da meditação.

“Ele fez uma fusão. Ajustou determinados pilares básicos do ioga e da meditação ao ritmo ocidental”, afirmou Ana Cruz.

“Quando esteve esses dois anos no Oriente, Caycedo percebeu que faltava algo na psiquiatria ou na psicologia, que era o corpo, a vivência do corpo. Então a sofrologia é algo muito prático, muito vivencial, experiência pura e é isso que vai transformar a consciência”, sendo que consciência para a sofrologia é um fluxo que liga corpo, emoção, pensamento”.

Frisando que “o ocidental não está habituado a escutar o corpo”, Ana Cruz adianta que o “relaxamento dinâmico” criado por Caycedo estimula a consciência corporal e permite ao indivíduo encontrar harmonia e equilíbrio.

Além de precioso auxiliar no tratamento de doenças funcionais, a sofrologia tem-se revelado fundamental na profilaxia, sobretudo em trabalhos desenvolvidos com crianças e jovens, e em áreas como a pedagogia e o desporto.

Hélia Viegas, que com Ana Cruz dirige a Escola de Santarém, aponta outra área, em que tem trabalhado nas últimas décadas, a da preparação de casais para o parto.

“Hoje a sofrologia faz parte das técnicas de educação perinatal”, disse.

02 de julho de 2012

@Lusa