O olfato poderoso de Joy Milne pode ajudar a salvar milhares de pessoas da doença de Parkinson, uma patologia neurodegenerativa que afeta o sistema nervoso central e que pode causar tremores, rigidez dos músculos, dificuldade em manter o equilíbrio, lentidão dos movimentos voluntários e morte.

Com um nariz bastante apurado, esta escocesa é capaz de sentir o cheiro do Parkinson. O marido dela, Les, foi diagnosticado com a doença quando tinha 45 anos. Mas Joy percebeu que havia algo errado dez anos antes.

Esteja atento. 8 sinais de alerta da Doença de Parkinson
Esteja atento. 8 sinais de alerta da Doença de Parkinson
Ver artigo

"O meu marido era médico e eu enfermeira. Sentia um cheiro estranho quando ele estava por perto. E isso causava um pouco de atrito, porque eu dizia que ele não estava a lavar bem os dentes, que não tomava banho... Ele começou a ficar chateado e eu tive de passar a estar calada", recorda em entrevista à BBC.

Já depois do diagnóstico, o casal foi a um encontro de doentes com Parkinson e Joy Milne percebeu que todas as outras pessoas tinham o mesmo cheiro que o marido. "O meu nariz só pensou: Uau!", diz.

Detetar a doença antes da fase sintomática

As pessoas com a doença de Parkinson podem desenvolver dificuldades em andar, falar e até dormir, mas não existem exames médicos capazes de detetar a doença precocemente, isto é, antes da fase sintomática. O diagnóstico é feito com base nos sintomas e muitas vezes o problema só é identificado quando o paciente já tem danos relevantes.

Segundo a referida televisão britância, Joy Milne percebeu que quem tem a doença, independentemente do seu estádio, tem um cheiro característico. Numa conferência sobre a doença, a antiga enfermeira falou para centenas de especialistas sobre esse aroma.

Tilo Kunath, um cientista da Universidade de Edimburgo, na Escócia, convidou-a para uma experiência e comprovou a habilidade de Joy. A escocesa recebeu 12 camisas para cheirar - seis tinham sido usadas por pacientes com Parkinson e outras seis por voluntários sem a doença diagnosticada.

15 doenças que ainda não têm cura
15 doenças que ainda não têm cura
Ver artigo

Joy identificou corretamente as seis blusas de pacientes com Parkinson, mas também sentiu o odor numa camisa que pertencia a um indivíduo do grupo de controlo. Três meses depois, a escocesa foi informada de que o dono da camiseta também tinha sido diagnosticado com a doença.

Joy foi, então, encaminhada para participar em um outro estudo da Universidade de Manchester. Nesta investigação, o objetivo é isolar e identificar as moléculas que produzem o odor característico nos doentes com Parkinson.

Os cientistas esperam que o olfato de Joy ajude a criar um diagnóstico precoce, para que tratamentos já existentes possam ser usados para travar a progressão da doença.