Em declarações à Lusa, o médico Afonso Moreira, que integra o movimento cívico que vai organizar uma manifestação em Lisboa no próximo sábado, criticou as palavras de Manuel Pizarro, que esta terça-feira enalteceu o “nível de fixação elevadíssimo”, perante a colocação de 278 dos 306 médicos que concorreram às 978 vagas abertas no país, apesar de só existirem 307 novos profissionais.
“Consideramos que estas declarações são um sinal de alheamento. O Governo está alheado da situação real das pessoas. Há uma falta de médicos que está na origem de vários problemas do SNS. É preciso que o debate se centre nos problemas: há um problema de credibilidade das instituições. Precisamos de mudar muitas coisas e de criar condições para atrair profissionais para o SNS”, referiu.
Para Afonso Moreira, o governante “está a brincar com os números”, sublinhando também que a abertura de vagas “não resolve por si só” os problemas do setor público da saúde.
“Se formos ver a realidade, onde há um grande défice de médicos, esses défices vão manter-se. Há zonas com milhares de pessoas sem médico de família e onde as vagas ficaram por preencher”, indicou, ao citar o exemplo do Cacém (concelho de Sintra), no qual haverá mais de 10 mil utentes sem médico de família e onde as seis vagas abertas ficaram por preencher.
De acordo com o médico, a classe tem de encontrar no SNS “carreiras dignas e salários justos”, cumprindo o princípio constitucional de garantir o acesso universal a cuidados de saúde.
“O SNS tem de ser reforçado em meios materiais e humanos. E que todos os utentes possam ter acesso a tempo e horas a cuidados de saúde de qualidade, sem discriminação de qualquer tipo”, resumiu, apelando à participação na manifestação cívica agendada para sábado, que sai às 15:00 do Largo do Camões em direção à Assembleia da República.
Na terça-feira, em declarações aos jornalistas à margem da inauguração de uma unidade de saúde mental em Paço de Arcos, Oeiras, Manuel Pizarro destacou a percentagem de 91% de colocação de profissionais. O ministro acrescentou ainda ter a expectativa de que nos próximos concursos seja possível manter um nível de fixação tão elevado: “Tudo o que for uma taxa de fixação acima de 75% significa que cumprimos o nosso papel”.
Com nomes ligados à Saúde, como Constantino Sakellarides e Francisco George, mas também às artes, como os músicos Jorge Palma e Salvador Sobral, o realizador João Salavisa e os escritores José Luis Peixoto e Luísa Costa Gomes, o movimento +SNS lançou um manifesto, já subscrito por cerca de 3.000 pessoas, que pede uma cura para um SNS que “está doente”.
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