25 de junho de 2014 - 10h24

Um estudo liderado por Paula Freitas, investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), revela que a mortalidade por doença cardiovascular aumentou 500% nos doentes portugueses com VIH/sida nos últimos 24 anos.

A mesma investigação, a que a Lusa teve hoje acesso, revela também que a prevalência de mortalidade por doença cerebral também duplicou neste grupo de pacientes.

O trabalho em causa – galardoado com o 3.º lugar do Prémio Janssen Virologia ’14 - avaliou a prevalência das hospitalizações por doença cerebral e doença cardiovascular e respetiva mortalidade em pacientes com VIH /sida, desde 1989.

Os dados foram comparados com os registados em pacientes não-infetados. Paralelamente, a equipa de investigação tentou perceber o impacto da introdução do cART (terapêutica antirretrovírica combinada), em 1987, nas hospitalizações por patologia cerebral e cardiovascular deste grupo de pacientes.

Segundo a coordenadora do estudo, “a mortalidade associada ao VIH diminuiu drasticamente nos últimos anos. Contudo, estes doentes têm uma prevalência aumentada de alterações metabólicas, nomeadamente, insulinorresistência, diabetes, dislipidemia e também hipertensão arterial, que aumentam o risco de doença cardiovascular”.

Por outro, esclarece a investigadora, “a existência do próprio vírus e o inerente estado de inflamação podem potenciar o risco de doença cerebral e cardiovascular. E fatores como o envelhecimento e o facto de a infeção pelo VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) se tornar uma doença crónica, faz com que estes doentes fiquem sujeitos às influências do ambiente mais tempo: sedentarismo, má prática alimentar, tabagismo e envelhecimento, que também estão associados a estas patologias”.

Os autores deste trabalho consideram que o conhecimento destes novos dados pode servir para promover uma intervenção mais precoce, de modo a reduzir o risco de desenvolvimento de doença cerebral e cardiovascular nos doentes infetados pelo VIH/sida.

A endocrinologista Paula Freitas salienta que houve uma mudança de paradigma: “há alguns anos, o objetivo era manter o doente vivo, e, hoje, o objetivo é reduzir o risco de complicações associadas. Assim, o tratamento da dislipidemia, da hipertensão, da diabetes, a promoção da cessação tabágica e de estilos de vida saudáveis provavelmente poderão acrescentar anos de vida com qualidade a estes doentes”.

Por Lusa