“Uma Vida, Duas Vidas”, livro que será apresentado terça-feira em Lisboa, reúne histórias de esperança e determinação “de quem tem a vida por um fio, nas mãos de um estranho”, bem como histórias de vida que foram “transformadas pelo altruísmo de um familiar ou pela desventura de um estranho”.

Na obra contam-se relatos relacionados com a colheita, momentos sobre as prioridades da decisão clínica ou as variadas reações dos doentes nos diferentes momentos.

É possível, através das histórias dos 22 médicos, acompanhar casos que não correram bem, que surgem ao lado de outros que “surpreendem pela persistência dos técnicos ou pela resiliência dos doentes”.

“É o princípio fundamental da luta pela vida que faz manter esta relação singular entre o médico e o doente, em circunstâncias tão dramáticas como surgem nestas histórias”, escreve Daniel Sampaio ainda no prefácio da obra, da Bertrand Editora, e cujos direitos revertem a favor da Sociedade Portuguesa de Transplantação.

No livro, o médico Alexandre Linhares Furtado recorda que o primeiro transplante de um órgão vital de dador vivo (um rim) se realizou nos Hospitais da Universidade de Coimbra a 20 de julho de 1969, no mesmo dia em que pela primeira vez um ser humano chegou à Lua.

Sendo hoje prática corrente, foi só em 1980 que se fez a primeira colheita de órgãos vitais em cadáver, também de rins e nos Hospitais da Universidade de Coimbra.

Como escreve o pioneiro Linhares Furtado, foram colhidos os rins, um transplantado em Coimbra e outro em Lisboa. Em ambos os casos, “o êxito foi total” e a, partir desse passo, a transplantação de órgãos vitais em Portugal estabeleceu-se como terapêutica de rotina para as insuficiências renais terminais.

“Haverá ato verdadeiramente mais altruísta do que doar um órgão ou um tecido para salvar ou ajudar alguém? Seja em vida ou mesmo depois de esta terminar? A imortalidade de um ser humano está na descendência e obras, mas também nas nossas células, órgãos e tecidos, no nosso ADN”, escreve o médico Manuel Guimarães na sua história “Heróis sem Nome”.