Desde 30 de março que os palestinianos se manifestam para reclamar o regresso aos territórios de onde fugiram cerca 750 mil pessoas entre 1948 e 1949, num exôdo conhecido por “catástrofe” (“nakba”, em árabe), cujo dia se celebrou na passada terça-feira.

Querem o regresso de 5,3 milhões de palestinianos considerados como refugiados pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) e o respeito pelos seus direitos fundamentais.

"O recurso à força excessiva por parte do exército israelita já provocou a morte de mais de 80 mil palestinianos e um número superior a 8500 feridos. As manifestações que ocorrem em Gaza e na Cisjordânia podem conduzir a um cenário ainda pior", alerta a Médicos do Mundo em comunicado.

"E não são só os civis a sofrer com a violência. Profissionais de saúde e infra-estruturas médicas estão igualmente a ser alvo de ataques abusivos dos israelitas. A Médicos do Mundo já conseguiu contabilizar mais de 169 profissionais de saúde feridos e 19 ambulâncias danificadas", acrescenta.

O sistema de saúde de Gaza tenta fazer face à falta de medicamentos essenciais e não tem meios suficientes para tratar o número feridos, diz a organização.

De acordo com o Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários (OCHA), dos 148 tipos de medicamentos necessários para responder às situações detetadas, um terço não está disponível.

"Infelizmente, esta situação dramática não é nova para os palestinianos que vivem em Gaza. Em 11 anos já conheceram três guerras com Israel e vivem sob permanente bloqueio terrestre, aéreo e marítimo. Um bloqueio qualificado pela comunidade internacional de punição coletiva, com repercussões diretas na vida das pessoas e entraves ao acesso a cuidados de saúde, medicamentos, água potável, alimentação, eletricidade e à livre circulação", explica a Médicos do Mundo.

De acordo com o médico Jean-François Corty, diretor de Operações Internacionais da delegação francesa da Médicos do Mundo, "com apenas poucas horas de eletricidade por dia, dificuldades na importação de medicamentos, de material médico e no encaminhamento de doentes para instalações de saúde apropriadas, o bloqueio tem efeitos desastrosos na saúde dos civis. A desumanidade aplicada aos habitantes de Gaza nesta prisão a céu aberto deve ser denunciada".

A delegação francesa da Médicos do Mundo está presente em Gaza e na Cisjordânia. "Todos os dias as nossas equipas conhecem, tratam e acompanham vítimas palestinianas desta situação catastrófica. Na Faixa de Gaza, a Médicos do Mundo intervém na preparação de estruturas de cuidados de saúde para situações de emergência. Na região de Nablus, trabalha para minimizar o sofrimento psicológico e o stress provocados pela violência dos colonos e do exército israelita", alerta a organização.