"Esta declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma homologação de uma fortíssima suspeita que já havia do ponto de vista científico relativamente à alta temperatura dos alimentos como fator de risco para aparecimento do cancro do esófago", afirmou à agência Lusa o presidente da Sociedade, José Cotter.

Aliás, segundo o perito, no ensino universitário de Medicina era já habitual apontar o exemplo da população inglesa, que tem uma alta prevalência de cancro do esófago, que tem o hábito de beber chá a temperatura muito alta.

“Mais importante do que a agressão química de alguns alimentos é a agressão térmica, que provoca uma injúria na parede do esófago que leva a alterações celulares que promovem a cancerização do esófago”, explicou José Cotter, reconhecendo que a situação é “gravíssima”, uma vez que se trata de um tipo de cancro com “mau prognóstico”.

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A taxa de sobrevida após cinco anos de diagnóstico é de apenas 15%, daí que todas as medidas preventivas se revelem importantes.

Sobre a população portuguesa, o presidente da Sociedade de Gastrenterologia refere que continua a haver “muita gente” que aprecia alimentos quentes, sobretudo bebidas.

“É um dever do médicos alertar para isto. A informação da OMS vem também alertar a generalidade da população. Para alguns é um hábito quotidiano e deve ser abolido”, afirmou.

O Centro Internacional de Investigação sobre Cancro (CIRC, sigla em francês) avisou esta quarta-feira que o consumo de bebidas muito quentes é uma "causa provável" do cancro do esófago, depois de eliminar também as suspeitas sobre o café ou o chá-mate consumidos a temperaturas normais.

"Estes resultados permitem pensar que o consumo de bebidas muito quentes é uma causa provável de cancro do esófago e que é a temperatura, mais do que a bebida em si, que parece ser a causa" da doença, afirmou o diretor do centro, Christopher Wild.

O centro reviu mais de mil estudos científicos sobre as alegadas propriedades que causam cancro do café e do chá-mate, muito popular na América do Sul.

"Estudos efetuados em locais como a China, Irão, Turquia e América do Sul, onde o chá ou o chá-mate são tradicionalmente bebidos muito quentes (a cerca de 70ºC) mostraram que o risco de cancro do esófago aumenta com a temperatura a que a bebida é consumida", disse o CIRC.

"O consumo de bebidas muito quentes, a temperaturas superiores a 65ºC, foi classificado como 'provavelmente' cancerígeno".