Na véspera do Dia Mundial da Saúde este ano dedicado à Diabetes, Miguel Guimarães considerou “essencial reforçar a relação médico-doente. O clínico tem de ter tempo e condições para observar de forma eficaz os utentes”.

“Não é possível continuar a manter tempos de consulta absurdamente curtos, com listas de 1.900 utentes", frisou.

Miguel Guimarães afirmou que “a prevalência de diabetes tem vindo a aumentar nas últimas décadas, em especial nos países de baixos e médios rendimentos", e que “os cortes nos gastos com alimentação, já retratados em vários estudos, podem estar a contribuir para o crescimento desta doença em Portugal".

No entender do presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, "o médico de família, que tem um papel determinante na prevenção de doenças e identificação de comportamentos potenciadores de doenças, é uma figura chave para a identificação dos riscos de desenvolvimento da diabetes, promoção da sua prevenção, acompanhamento e tratamento, com referenciação atempada para um endocrinologista sempre que necessário".

"É preciso criar condições para que os Cuidados de Saúde Primários possam fazer esta prevenção de forma mais adequada", frisou.

Numa altura em que Portugal continua a atravessar “uma fase de contração” no investimento público na área da Saúde, Miguel Guimarães reforçou a ideia de que "a prevenção na área da diabetes é um excelente exemplo de como é possível poupar em Saúde".

Quase um milhão de diabéticos em Portugal

Segundo o último Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes em 2014, a prevalência estimada da Diabetes na população portuguesa com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos (7,7 milhões de indivíduos) foi de 13,1%.

Ou seja, “mais de um milhão de portugueses neste grupo etário tem Diabetes", sublinhou.

Em seu entender, "um dos principais problemas é que quase metade destas pessoas, cerca de 44%, ainda não tinha sido diagnosticada". Por isso, o presidente da CRNOM alerta para os custos financeiros e na própria saúde que tal questão acarreta.

"No espaço de uma década os encargos do SNS com as vendas em ambulatório de insulinas e anti-diabéticos orais aumentaram de 63,9 milhões de euros por ano para os 222 milhões de euros em 2014", explicou Miguel Guimarães.

No mesmo período, acrescenta, "os custos para os utentes aumentaram dos 3,4 para os 20,6 milhões de euros".

Os dados da ACSS apontam para que a Diabetes em Portugal em 2014 tenha representado um custo estimado entre 1.300 a 1.550 milhões de euros, ou seja, cerca de 0,9% do PIB português de 2014 e 08 a 10% da despesa em Saúde nesse ano", salientou Miguel Guimarães.

Disse ainda que a estes custos se tem “ainda de acrescentar outros, como a perda de dias de trabalho por internamento hospitalar, os custos associados a complicações como a retinopatia, a nefropatia, a neuropatia, a doença vascular periférica e as amputações de membros, entre outras".

Recorda que as projeções mais recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS) estimam que em 2030 a diabetes seja a 7.ª principal causa de morte no mundo inteiro, representando um crescimento de mais de 50% nos próximos dez anos. Isto numa altura em que se estima que 347 milhões de pessoas no mundo inteiro tenham diabetes e que, em 2012, cerca de 1,5 milhões de pessoas tenham morrido com complicações associadas à diabetes.

"Tal como a OMS afirma, a prevenção e tratamento precoce da diabetes, nomeadamente a de tipo 2, permite reduzir as consequências dramáticas desta doença silenciosa e poupar ao Estado e às famílias muitos milhões de euros", acrescentou Miguel Guimarães.