Segundo o clínico de medicina geral e familiar, que exerce no Centro de Saúde de Pedrógão Grande, os médicos são “hoje confrontados com o internamento e institucionalização abusiva nas unidades de longa duração, com custos elevados, resultados questionáveis e, por vezes, de uma violência psicológica inaceitável".

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"A taxa de ocupação de unidades de longa duração por casos unicamente sociais atinge hoje uma dimensão que desvirtua os princípios da RNCCI", considerou o médico, que interveio no encontro "Cuidar em Casa", organizado pela Administração Regional de Saúde do Centro.

Ao intervir no painel "Cuidados de saúde no domicílio - a perspetiva do médico de família", José Silva salientou que Portugal não é, infelizmente, "um país tão rico que permita de uma forma tão perdulária gastar recursos financeiros".

"Se fossemos mais criteriosos e exigentes, faríamos uma aposta forte e séria nas Equipas de Cuidados Continuados Integrados e, simultaneamente, nas estruturas sociais para idosos que não necessitam de cuidados de saúde mais diferenciados", defendeu.

Incapacidade da Segurança Social em encontrar respostas

Para o clínico, manter o rumo atual de crescimento das rendas das unidades de cuidados de longa duração "para dar resposta a casos exclusivamente sociais que não necessitam de cuidados de saúde específicos, mais não serve do que colmatar a incapacidade da Segurança Social em encontrar respostas e, simultaneamente, ceder e satisfazer grupos de pressão".

Para o clínico de medicina geral e familiar, o caminho de futuro dos cuidados continuados passa por "apostar nas ECCI [Equipas de Cuidados Continuados Integrados), trabalhar com as famílias, criar as condições para retardar a institucionalização do dependente e pedir aos técnicos da Segurança Social para estarem no terreno".

José Silva considera urgente que se "discuta e equacione a função das famílias, quais os seus direitos, deveres e responsabilidades", numa altura em que se vive uma "importante e significativa alteração de paradigma na estrutura familiar, com a consequente desresponsabilização e abandono das suas obrigações".

"Acelerar o estatuto do cuidador informal e penalizar o abandono são regras essenciais na procura de soluções sustentáveis para os quais todos devemos contribuir", disse o médico, que também dirige as residências clínicas Montepio, em Coimbra.

O encontro "Cuidar em Casa", que decorreu ontem, debateu a importância de levar os cuidados continuados integrados a casa do doente, evitando, sempre que possível, a sua deslocação em caso de necessidade destes cuidados específicos.