“Não consigo perceber. Uma lei que nos obriga a cumpri-la tem que ser razoável e tem que ter uma fundamentação científica inatacável. Tendo como base isso, alguém tem de vir explicar o porquê dessas situações, se não explicar é uma autêntica heresia”, afirmou hoje o médico angolano à Lusa.

Segundo Matadi Daniel, um agente sanitário quando imprime medida de cumprimento sanitário estas “não podem ser contrárias” à saúde pública: “Alguém tem de explicar porque é que eu, hoje, com ambiente ensolarado, estão aí cerca de 34 graus, com um calor enorme, não posso ir para a praia dar um mergulho”.

Para o médico especialista em doenças renais, a referida medida constitui um paradoxo.

“Isto é incompreensível, sobretudo porque as praias são um espaço aberto, não devia haver restrições e abrem discotecas, as festas. Não consigo perceber”, comentou.

Angola aligeirou as medidas de prevenção e combate à covid-19, mas mantém interdito o acesso a praias e piscinas públicas, anunciou o ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República.

Adão de Almeida, que procedia, na segunda-feira, à atualização das medidas do estado de calamidade pública, que vai vigorar entre 01 e 28 de fevereiro, disse que as alterações são justificadas pela “evolução positiva da situação”, saindo de um período de crescimento substancial de contágio, nos meses de dezembro e janeiro.

Para os restaurantes e similares, o funcionamento estende-se até à meia-noite todos os dias, com ocupação de 75% da capacidade de espaço e com a permissão da atividade de recreação no seu interior.

Matadi Daniel considera, por outro lado, que Angola já deveria olhar para a pandemia “na perspetiva do seu fim, por registar um reduzido número de casos sintomáticos, baixa mortalidade e sem qualquer afunilamento nos hospitais” devido à doença.

“Se se fizer uma ronda nos hospitais, quase não há internados com covid-19. Nós deveríamos abrir e olhar para a pandemia como algo endémico, porque, de facto, a dimensão da pandemia em África e em particular em Angola não tem a dimensão da Europa”, argumentou.

Apontou Portugal e Alemanha como países europeus que, “apesar de registarem quase 50 mil casos por dia, estão a começar a aliviar as medidas”, tendo reiterado a sua indignação em relação à interdição de praias aos cidadãos em Angola.

“A pessoa faz praia para ter alguma exposição solar para a absorção da vitamina D, que aumenta a imunidade do organismo, que quando absorvida adequadamente age para a absorção do cálcio, que é fundamental para fortalecer os ossos e para o músculo cardíaco”, rematou Matadi Daniel.