Os dados foram divulgados à agência Lusa pela Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (APOGEN) no dia em que se assinalam os 30 anos do início da comercialização destes medicamentos em Portugal.
Fazendo um balanço dos genéricos em Portugal, a presidente da APOGEN, Maria do Carmo Neves, disse que foram “uma ferramenta importantíssima, porque permitiu que mais utentes fossem tratados a custos comportáveis” e que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) poupasse.
A título de exemplo, disse que, desde 2011 até hoje, os genéricos permitiram poupar mais de 5 mil milhões de euros, o que equivale a dois anos de custos da despesa total do SNS com medicamentos em ambulatório e em meio hospitalar.
O investimento nestas soluções permite alocar mais recursos ao SNS, investir na inovação, criar mais postos de trabalho e contribuir para a economia portuguesa através das exportações e de um maior equilíbrio da balança comercial do medicamento.
“Não tenho qualquer dúvida que a inovação nos tem prolongado a vida, e uma vida com mais qualidade, mas o que tem mantido a sustentabilidade são os medicamentos genéricos e os medicamentos biossimilares”, salientou.
Mas, apesar dos avanços, o país ainda está longe da média europeia em termos da quota dos genéricos (quase 70%). Desde há alguns anos que Portugal estagnou nos 48,8%.
Maria do Carmo Neves defendeu que é preciso que nos próximos anos, seis em cada 10 utentes beneficiem destes medicamentos.
“Qualquer mudança é difícil de implementar e demora muito tempo a atingir-se os objetivos, muito mais quando estamos aqui a tratar pessoas com médicos que têm experiência com um determinado produto e que a mudança lhe dá a perceção que pode não ter os mesmos resultados. Mas não passa de perceção”, afirmou, aludindo à estagnação do mercado de genéricos.
O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF) apontou, por sua vez, como razões para esta estagnação o sistema de preços estar “tão achatado” que o mercado português deixa de ser apelativo para mais genéricos, e por não se manter a pressão sobre a informação.
“É preciso continuar a explicar aos profissionais de saúde e aos doentes a importância dos medicamentos genéricos, a qualidade e a eficácia que têm, que são iguais à do original, que aumentam a sustentabilidade e paga menos o doente e paga menos o sistema”, salientou Hélder Mota Filipe.
O bastonário lamentou que passados 30 anos ainda se alimente dúvidas sobre os genéricos, sublinhando que, quando um profissional (médico, farmacêutico, enfermeiro) diz que só confia no medicamento original, o que está a dizer é que não confia nas autoridades do medicamento.
“Há muitos profissionais que são irresponsáveis quando dizem isto, porque se têm dúvidas genuínas, a primeira coisa que têm que fazer é reportar ao sistema de farmacovigilância que tem uma dúvida, porque o medicamento não está a atingir o objetivo que era proposto ou porque o doente não respondeu da forma adequada”, defendeu.
“Portanto, dizer estas coisas sem ser consequente é uma irresponsabilidade e é uma má prática do ponto de vista dos profissionais”, rematou Hélder Mota Filipe.
Para o ex-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar Rui Nogueira, o acolhimento por parte dos médicos dos genéricos foi boa, porque “contribuiria para o uso mais racional dos recursos com medicação que são grandes”.
“Depois houve aquela fase de necessidade esclarecimento dos doentes e também nosso de dúvida que tínhamos, mas que rapidamente ficou tudo resolvido para nós e penso que para os doentes também”, afirmou Rui Nogueira.
Apesar de já não ser frequentes, alguns doentes ainda hoje preferem ter medicamentos de marca do que genéricos, contou.
Mas, realçou, se não fosse o uso destes medicamentos, o país estaria hoje “numa situação bem difícil, bem pior” em termos de gastos com medicamentos que “é enormíssimo”.
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