Dois investigadores da Universidade da Madeira (UMa) integraram um grupo internacional de cientistas que descobriu duas classes de compostos que resistem às mutações do vírus da Sida, o que prolonga a eficácia dos futuros medicamentos.

"Este foi um projeto financiado pelo Instituto de Saúde dos Estados Unidos (NIH), representou um investimento na ordem de um milhão de dólares, envolveu vários grupos com diferentes competências e visava encontrar inibidores da protéase do HIV-I e HIV-II, que são vírus que provocam a Sida", disse à agência Lusa um dos investigadores, Miguel Xavier Fernandes.

O investigador da academia madeirense acrescentou que o projeto "foi bem-sucedido na fase pré-clínica, tendo sido obtidos excelentes resultados", faltando agora "os ensaios clínicos que levarão seguramente três ou quatro anos e estarão ao alcance de eventuais empresas farmacêuticas interessadas".

Por isso, o cientista estima que "a janela de tempo até chegar à possível comercialização é de meia dúzia de anos".

Miguel Xavier Fernandes, que trabalhou em colaboração com um outro investigador que fez parte do Centro de Química da Madeira da UMa, Visvaldas Kairys, refere que depois da descoberta foi desencadeado o processo de registo das patentes dos resultados", uma primeira com caráter internacional "que é válida para países como os Estados Unidos, Japão, China, Europa, India, e a segunda, mais recente, só nos Estados Unidos", que ficou concluído em finais de 2011.

O investigador realça a importância do registo das patentes que "permite proteger os resultados da investigação e os interesses das empresas farmacêuticas" interessadas.

Sobre as vantagens desta descoberta, o cientista destaca que "os compostos produzidos são eficazes contra as mutações do vírus" que provoca a Sida.

"Os medicamentos comerciais utilizados atuam contra a protéase do HIV, que é uma proteína que sofre mutações ao longo do ciclo de progressão da doença, e geralmente veem a sua eficácia diminuída quando esta sofre mutações", explicou.

Segundo o cientista, as classes dos compostos agora descobertos "são mais eficazes também contra as mutações da protéase".

"Com estes compostos, se chegarem à fase de comercialização, aquilo que esperamos é que não seja preciso mudar com tanta frequência a terapêutica porque serão eficazes durante muito mais tempo", sustentou o investigador.

Falando dos benefícios desta descoberta, o cientista destaca a "vantagem terapêutica, porque utiliza o mesmo composto durante mais tempo, e a vantagem financeira porque não é necessário comprar novos medicamentos, situação que torna os tratamentos mais caros".

Miguel Xavier Fernandes destaca que a produção de um novo composto é muito dispendiosa e é um processo que demora 15 a 16 anos.

7 de março de 2012

@Lusa