A investigação, que faz parte da tese de doutoramento de Rita Araújo, investigadora no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, analisou a cobertura dada pelos jornais portugueses aos casos de suicídio.
“Ficámos surpreendidos positivamente com os resultados, percebemos que a cobertura que se pratica em Portugal não apresenta os traços sensacionalistas que foram identificados noutros países pela Organização Mundial de Saúde”, diz Rita Araújo.
Segundo Rita Araújo, nos jornais generalistas portugueses raramente são apresentados detalhes de suicídios.
“Os títulos geralmente são factuais (não apelam ao sensacionalismo) e quando há retratos de casos específicos de situações de suicídios são sempre enquadrados numa perspetiva da saúde mental”, sublinhou a investigadora, que participa hoje, em Guimarães, no Simpósio da Sociedade Portuguesa de Suicidologia, com o tema “Crise Suicidária: Prevenção, intervenção e pósvenção”.
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Para realizar o estudo, a equipa de investigadoras, formada por Rita Araújo, Felisbela Lopes e Zara Pinto-Coelho, baseou-se na literatura que existe noutros países (Austrália, Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha).
“O que nos dizem os estudos desses países é que, de facto, os media nem sempre têm os comportamentos mais responsáveis no que toca à cobertura dos suicídios”, disse Rita Araújo.
Contudo, “verificámos que em Portugal as coisas não são assim, a situação não é tão alarmista como se verifica noutros países”, disse, comentando que a análise permitiu concluir que os jornalistas portugueses estão a fazer "um bom trabalho”.
Rita Araújo adiantou que há uma série de normas nacionais e internacionais sobre como os profissionais dos Media devem noticiar os suicídios.
Entre essas normas estão evitar fazer uma cobertura sensacionalista, evitar dar pormenores sobre o caso, o método utilizado para cometer o suicídio e “evitar as generalizações”.
“Dizer que determinada pessoa cometeu o suicídio porque estava com depressão não quer dizer que todas as pessoas com depressão o vão fazer”, explicou.
Há vários estudos que comprovam que as notícias sobre o suicídio têm o poder de criar novos suicídios, um fenómeno denominado “efeito de imitação”.
“A cobertura mediática do suicídio tem alguns riscos e pode levar a ondas de suicídio”, advertiu, defendendo que deve haver “um debate mais alargado no seio da profissão sobre a forma como isso deve acontecer”.
Geralmente, os jornalistas sabem que não devem noticiar o suicídio, mas muitas vezes não sabem porquê, frisou.
Para a investigadora, “noticiar o suicídio por si só pode não fazer sentido”: “O que é preciso é alertar para as causas do suicídio, para os fatores de risco e dar mais notícias sobre a saúde mental em geral, falar sobre os fatores de riso e quem são aqueles que estão mais em perigo de cometer suicídio”.
“É muito importante perceber que a cobertura do suicídio em si mesma não promove comportamentos suicidas, mas a forma como a cobertura é feita pelos jornalistas pode promover”, vincou.
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