Ao injetar um "editor" de genes diretamente nas células da orelha, os cientistas "desativaram" o gene mutante que lhes tiraria a capacidade de ouvir com o tempo. Com quatro semanas de vida, os ratos não injetados não eram capazes de ouvir sons de 80 decibéis na escala de volume - como os do tráfego de uma cidade, por exemplo.

Os ratos tratados, no entanto, reagiram a sons de 65 decibéis - o nível de conversação humana normal -, afirmou uma equipa de cientistas dos Estados Unidos e da China na revista científica Nature.

Alguns dos ratos de laboratório, apelidados de "Beethoven" em homenagem ao compositor alemão que ficou surdo durante a sua carreira, tiveram uma orelha tratada e a outra não.

Nas orelhas injetadas, os investigadores observaram "células ciliadas" muito mais saudáveis. Estas células, responsáveis ​​pela deteção de som em humanos e camundongos, são mortas por uma versão mutada do gene TMC1.  "Ficámos muito entusiasmados quando observámos a preservação auditiva nas orelhas injetadas, mas não nas orelhas não injetadas" de ratos, comentou o co-autor do estudo David Liu, da Universidade de Harvard, à AFP.

Com oito semanas de vida, os ratos não tratados não respondiam a sons súbitos e altos, enquanto os tratados tiveram sobressaltos. "Observámos um benefício substancial para a função auditiva e para a saúde das células ciliadas", disse Liu por e-mail.

Humanos

Quase metade dos casos de perda de audição em humanos tem causas genéticas, de acordo com a equipa de investigadores.

Os humanos com a mutação TMC1 geralmente começam a perder a audição entre os cinco e os 30 anos, e a maioria está surda quando chega aos 50 e 60, disse Liu.

Os ratos geralmente vivem até os dois anos de idade. A equipa utilizou a técnica de edição de genes CRISPR-Cas9, na qual a proteína Cas9 atua como uma "tesoura" cortando o gene mutante causador de doenças em uma célula, para ser substituído ou reparado.

Normalmente, os cientistas usam um vírus desativado para entregar instruções codificadas para a própria célula fabricar as "tesouras" Cas9. Mas Liu e colegas injetaram a proteína Cas9 já formada diretamente nas células internas da orelha.

"Doenças até então incuráveis ​​e muitas vezes até não tratáveis ​​estão agora ao alcance da terapia genética", comenta Simon Waddington, especialista em transferência de genes da University College de Londres.

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