“‘É uma organização não-governamental que foca a atenção em pessoas em situação de rua [sem-abrigo] e procura promover a alegria através do riso e do sorriso”, explicou o responsável à agência Lusa.

Segundo Francisco Soares, além de atender as pessoas e ensinar a rir, esta organização não-governamental (ONG) tem também um banco de roupa que distribui constantemente. Além disso, desenvolve um programa para criar consciência através do riso, sobre como comportar-se na sociedade e que promove também o bem-estar e a alegria em empresas e organizações.

Filho de madeirense, este lusodescendente explicou que a ideia de criar a ONG surgiu há quatro anos, e esta foi registada legalmente em 2016.

“A ONG surgiu porque eu passei pela experiência pessoal de viver na rua. Muito jovem tive que viver nas ruas e aquela experiência, que no meu caso foi por razões de adição [toxicodependência], marcou-me muito porque a realidade das pessoas que vivem nas ruas é muito dura. Quem vive na rua passa vivências muitos fortes e daí surgiu a intenção de ajudar e trabalhar a favor dos sem-abrigo”, disse.

Sobre a atenção aos sem-abrigo, explicou que uma vez por mês os voluntários fazem uma jornada à procura de pessoas que ainda não foram identificadas e que não conhecem a sua ONG.

“Levamos-lhes um prato de comida e roupa para vestir, entendendo que isso não mudará a realidade dessas pessoas, mas dignificará esse dia na vida dessa pessoa”, relatou.

Por outro lado, explicou que “o mais importante é o que acontece depois” porque os membros da ONG “recolhem a maior quantidade de dados dessas pessoas, setorizam e classificam, onde moram, onde dormem, como se chamam, para depois continuar a atenção através do banco de roupa e de outras atividades”.

Quanto aos recursos económicos para manter a ONG, precisou que são obtidos pelas pessoas que colaboram: “Não temos donativos de organizações internacionais ou empresas, apenas o apoio direto de pessoas que sabem de nós, do trabalho que fazemos”.

“Também fazemos atividades em organizações e empresas, como a ioga do riso, vendemos ‘t-shirts’, e com isso angariamos fundos para ajudar as pessoas que vivem nas ruas”, frisou.

Quanto ao ioga do riso, explicou que é uma técnica para “aprender a rir mesmo sem piada, sem humor”.

“O nosso mundo está habituado a rir por humor, fazendo troça do outro, o que agora chama-se ‘bullying’. A ioga do riso ensina a aprender a rir sem razão, fazer movimentos corporais e respirar, inalar e exalar rindo. É algo tão fácil e o cérebro não compreende se se está a rir a sério ou mentindo, envia hormonas para o corpo porque pensa que estamos rindo, e nós procuramos que as pessoas adiram a esta ideia”, disse.

Francisco Soares afirma que “o mal da humanidade, neste momento, é a discriminação e não apenas de quem vive na rua, também por ser preto, magro, gordo, porque usa óculos ou não, mas para quem vive na rua é muito mais difícil porque está sujo, por não tem onde tomar um duche todos os dias”.

“Então essa pessoa sofre mais intensamente a discriminação e é um ser humano igual a nós e merece um tratamento digno”, defendeu.

Sublinhou ainda que “muitas pessoas têm medo de aproximar-se de uma pessoa que vive na rua” e se passeiam com uma criança pela mão dizem-lhe que “esse maluco vai-te agarrar”.

“Ainda não entendemos que atender essa população deve ser um compromisso. É trabalho de todos, não apenas do Governo, de uma organização. Amanhã pode ser um primo, um amigo ou um irmão que esteja nessa situação”, concluiu.