Em entrevista à agência Lusa, a presidente do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, Eva Falcão, afirmou que a despesa com medicamentos continua a ter “um peso bastante grande no IPO” e que o seu crescimento “tem que ser o mais controlado possível”.

Em 2019, a rubrica com medicamentos representou 46 milhões de euros, valor que subiu para 53 milhões em 2020 e para 64 milhões de euros no ano passado.

“Em 2022, cremos que o valor será bastante aproximado”, disse Eva Falcão, comentando que “num orçamento de perto de 190 milhões euros, 64 milhões em matéria de despesa com medicamentos é um peso grande”.

A nova presidente do IPO de Lisboa, que assumiu o cargo há seis meses, tendo substituído o oncologista João Oliveira, defendeu que têm que “cada vez mais serem exigentes em relação à inovação e escrutinadores em relação aos tratamentos”.

Recordou, a este propósito, as declarações recentes da diretora-geral da Direção-Geral de Saúde da Comissão Europeia, Sandra Gallina, no aniversário do Infarmed sobre um movimento europeu para se avaliar o verdadeiro valor da inovação e o que é realmente inovação, e cada vez mais ter um conjunto de países europeus debruçado sobre as questões da sustentabilidade no acesso ao medicamento.

“O acesso ao medicamento é fundamental, mas esse acesso tem que ser sustentável”, assim como “a “inovação necessita de comprovação”, defendeu Eva Falcão, que já exerceu funções como administradora hospitalar no Hospital de Santa Maria, depois no Hospital Pulido Valente e no Hospital Garcia de Orta e foi chefe de gabinete da ex-ministra Marta Temido.

Segundo a administradora, o que se sente no IPO é que o alargamento das indicações terapêuticas de moléculas já conhecidas também fomenta o aumento da despesa, bem como o facto de tratarem mais doentes.

“Há programas de acesso precoce ao medicamento inovador que depois deixam de ser financiados e representam uma grande fatia de despesa”, explicou.

Questionada se a inflação está a ter impacto nas despesas do dia-a-dia da instituição, Eva Falcão referiu que há áreas em que recorrem à compra centralizada por parte dos Serviços partilhados do Ministério da Saúde que permite ter ganhos em termos de escala.

“Em matérias em que a compra é isolada, enfim, é negociar, negociar, negociar”, afirmou, reconhecendo que em “muitas áreas” há um crescimento da despesa inevitável, mas que tentam que seja “o mais controlado possível”.

Sobre os grandes desafios e apostas do seu mandato, a administradora referiu os recursos humanos.

“Até ao final do mandato será uma das nossas apostas, motivar os profissionais a tentar que este sentimento que encontrámos no IPO de pertença a uma determinada instituição, que é especial, que trata uma doença especial, seja cada vez mais fomentado para que as pessoas sintam aqui um projeto de realização profissional e também pessoal”, declarou.

Por outro lado, a qualificação das instalações é uma necessidade, sendo um dos “grandes objetivos” a construção do novo edifício do ambulatório e reafirmar “o IPO como uma entidade de referência na prestação de cuidados de saúde, no ensino e na investigação”.

No final da semana passada, foi lançado o procedimento de aquisição do projeto de arquitetura para a construção do novo edifício, com um valor estimado de dois milhões de euros, que marcará o lançamento da operação da sua construção no ano que o IPO Lisboa vai celebrar o seu centenário.

Eva Falcão salientou que a construção deste edifício é “uma aspiração bastante antiga” e “é essencial” porque o IPO tem 19 edifícios dispersos.

“Um edifício moderno, de raiz, permitirá a melhoria das condições de atendimento e acolhimento dos doentes e também de trabalho dos profissionais”, disse, assegurando que vão desenvolver todos os esforços, respeitando todos os prazos legais, para que seja construído “no maior curto espaço de tempo possível”.

A obra será projetada para ocupar uma área superior a 24 mil metros quadros, do lado nascente no IPO Lisboa.