O projeto, intitulado AISym4MED, pretende resolver “limitações” da inteligência artificial em bases de dados clínicas relacionadas com “a falta de confidencialidade, privacidade e representatividade”, revelou hoje à Lusa o investigador David Belo.
“As bases de dados em saúde têm grandes problemas ao nível da privacidade e da segurança, mas também lhes falta representatividade e dados patológicos”, afirmou o coordenador do projeto, acrescentando ser por isso fundamental “parar de brincar com a inteligência artificial” e usá-la para “criar algo sério”.
“Temos de criar já de raiz algoritmos que estejam mais preparados para o mundo real e não para um conjunto de dados de uma população muito específica de determinado serviço de um hospital”, notou.
Ao longo dos próximos quatro anos, os investigadores vão, por isso, criar ferramentas para resolver problemas como a “dispersão de dados, parcialidade, falta de fiabilidade e questões de privacidade”.
Destacando que, atualmente, a anonimização dos dados assume um “papel muito importante”, David Belo esclareceu que através dos dados sintéticos [dados gerados por um algoritmo de forma artificial], as informações recolhidas podem ser manipuladas, representando um “cenário real”, mas, simultaneamente, alterando “suficientemente” a fonte para que esta não seja reconhecida.
“Com esta geração de dados conseguimos, por exemplo, remover as tatuagens de um paciente e assim resolver o problema da privacidade e da anonimização da pessoa”, explicou.
Duas das instituições que integram o projeto vão debruçar-se sobre questões éticas e legais do projeto, que pretende trabalhar os dados para que “sejam reconhecíveis [danos, lesões ou sintomas], mas nunca identificáveis [os pacientes]”.
A par das questões de privacidade e anonimização, outra das “lacunas” que o projeto pretende resolver prende-se com a “tendenciosidade” das bases de dados, pelo que o algoritmo vai ser instalado nos sistemas hospitalares que integram o consórcio do projeto.
David Belo adiantou à Lusa que no final do projeto será criada uma plataforma digital para quatro grupos específicos, nomeadamente, investigadores, clínicos, cientistas de dados [‘data scientists’] e indústria farmacêutica.
A plataforma “apoiará o desenvolvimento de soluções e serviços digitais para aplicações médicas, permitindo avaliar e melhorar os sistemas de inteligência artificial num ambiente seguro e de confiança”, acrescentou David Belo.
O projeto, que arrancou no final de 2022, é financiado em sete milhões de euros pelo programa Horizonte Europa da Comissão Europeia, UK Research and Innovation e Swiss Confederation.
Coordenado pelo centro de investigação Fraunhofer AICOS, sediado no Porto, o projeto integra 15 instituições.
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